Cinismo

Sete motivos para agradecer à Alemanha pela goleada

Foi terrível, um vexame. Uma vergonha inesquecível e irreparável. Mas há motivos para o Brasil agradecer à Alemanha.

Dennis Sabangan/EFE

A festa hoje é deles, mas a gente ainda tem alguma coisinha para comemorar

É cínica a lista que vem a seguir. Mas, além do humor, é preciso outros recursos para lidar com a frustração e a tristeza de ter tomado uma surra homérica, histórica, implacável. Perder de 7 x 1 é ruim. Ver os adversários marcarem 6 x 0 sem comemorar o sexto tento é humilhante. É ser tratado como time pequeno.

Mas perdermos. O revés sem precedentes nem paralelos redime muita gente, aumenta a média de gols, força o futebol brasileiro a mudar… Há aspectos positivos.

Todo mundo aqui preferiria um 1 x 0 honesto. Mas já que apanhamos de chinela…

1) Barbosa é inocente

Que o goleiro da seleção brasileira na primeira copa realizada no Brasil, a de 1950, foi bode expiatório do Maracanazzo, quase todo mundo sabe. Mas os 7 x 1 foram a pior derrota da história do futebol brasileiro. Disparadamente. Não foi na final, foi nas semifinais. Mas foi a maior goleada em copas e igualou-se à pior goleada fora de copas (6 x 0 imposto pelo Uruguai em 1920). O culpado pela derrota mais dura e marcante do Brasil em copas não é Barbosa porque a mais terrível e dolorosa derrota brasileira não é mais a da Copa de 1950. Outros algozes de desclassificações, como Toninho Cerezzo, em 1982, Carlos, em 1986, também estão todos isentos.

2) Mudar tudo é inevitável

Treinadores brasileiros não conseguem aproveitar o potencial individual dos talentos que ainda existem – em quantidades menores do que no passado, mas ainda em volume relevante. A organização da CBF, a forma como a preparação para a copa é feita, a formação de atletas… É hora de mudar tudo no âmbito do futebol. Isso é uma constatação inegável.

3) Felipão e Parreira nunca mais pisam no banco da seleção

Luiz Felipe Scolari deixou o Palmeiras, rebaixado em 2012, para assumir a seleção. É um técnico ultrapassado taticamente. Carlos Alberto Parreira vai na mesma linha. Eles não voltam a comandar a seleção. Isso é positivo. O time alemão é bom e mostrou consistência. Mas, diante de uma Argélia e de uma Gana montadas para pará-los, foram parados. Contra o Brasil, só Joachim Löw se preocupou em aproveitar as falhas na formação defensiva do Brasil. A comissão técnica brasileira parece não ter feito o mesmo. Olhar o adversário e adaptar o estilo de jogo a isso é o mínimo.

4) Nunca mais o Brasil vai depender tanto de um craque só

Apostar todas as fichas em um único talento (Neymar) não funciona para uma seleção como o Brasil. É necessário ter um mínimo de consistência tática para compensar a técnica que já não é tão abundante. Sem ter alternativas de criação de jogadas e de cadência do jogo não dá.

5) Não haverá Maracanazo

Foi um Mineiraço, é verdade. Mas não se repetiu a história. Porque a história só se repete como farsa. Aliás, já tem gente sentindo saudades do Maracanazo.

6) Zúñiga não precisa ser linchado

O autor da entrada violenta que tirou Neymar da Copa não é o responsável pela eliminação do Brasil. Porque um massacre de 7 x 1 não é fruto da ausência de um jogador (ou dois, considerando a suspensão de Thiago Silva). É culpa da falta de tudo. E de méritos do adversário.

7) 2014 já é a segunda copa com mais gols marcados da história

Na fase de grupos, era uma pujança de gols marcados. Goleadas, viradas… Nas oitavas, uma magreza, com placares apertados, o maior número de prorrogações da história desta etapa e três decisões por pênaltis. Nas quartas, ainda pior, uma média de gols de 1,25 por jogo. Os oito assinalados em apenas uma partida da semifinal representam mais do que os feitos nas quatro partidas das quartas. O total subiu para 167 e a média de gols por jogo alcançou 2,74. Em números absolutos, a Copa no Brasil passou a de 2002 e só precisa de mais quatro gols para igualar a marca de 1998. Valeu, Alemanha, por quebrar esse galho para o Brasil.

Bônus: Contrapartida do Brasil

Para deixar o placar em 7 x 1, incluímos aqui um bônus daquilo que o Brasil proporcionou para a Alemanha. Miroslav Klose ultrapassou Ronaldo, Fenômeno, em uma partida contra o Brasil e no Brasil. Ele quebrou o recorde de partidas vitoriosas em copas, antes de Cafu. Fez do time de Joachim Löw o melhor ataque disparado da competição. E por aí vai.

Não tem de quê.