Rapper Renan Inquérito não poupa ninguém no livro ‘#Poucas Palavras’

  “Poesia é insatisfação, um anseio de autossuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz”. Já escrevera o poeta gaúcho Mario Quintana e que agora é reproduzido no livro “#PoucasPalavras”, do rapper […]

 

“Poesia é insatisfação, um anseio de autossuperação. Um poeta satisfeito não satisfaz”. Já escrevera o poeta gaúcho Mario Quintana e que agora é reproduzido no livro “#PoucasPalavras”, do rapper paulista Renan Inquérito, que transforma esses versos em lema de vida. Professor de Geografia, ele já foi sorveteiro, empacotador e mecãnico antes de se tornar um dos artistas de hip hop mais aclamados do país, com a banda Inquérito, que já lançou três álbuns. Ele também criou o jornal “Ideia Quente” e participou do livro coletivo “Suburbano Convicto – Pelas Periferias do Brasil”.

 

Em “#PoucasPalavras”, Renan Inquérito reúne pensamentos e brincadeiras com as palavras e o espaço branco da folha, como no ótimo “Poeta Musical”, levando adiante a criação dos poetas concretos. Os objetivos ficam claros logo no início: “Escrevo como quem faz artesanato, com frases em retalhos, como montar um quebra-cabeças, cada palavra uma peça, até que as partes façam algum sentido”. Sérgio Vaz, da Cooperifa, parece acrescentar: “É poesia que dói como a vida, como as ruas que sangram nossos dias na calçada. O livro passa como um filme que não tem pra alugar, num poema que ele crava na página como se cuspisse na cara do opressor, só que você pode rebobinar para que o coração tenha tempo de captar toda sua essência”.

"#PoucasPalavras", de Renan (Foto: Reprodução)

A crítica à forte desigualdade social e ao consumismo desvairado ao qual estamos expostos desde que nascemos salta em cada uma das 156 páginas dessa obra, valendo-se dos slogans e logotipos de diferentes marcas bem populares. O autor também não foge à responsabilidade de assumir a palavra. “Vou ser breve: Se a história é nossa deixa que #nóisescreve”. Ele também adota o estilo das hastags, do Twitter, afinando-se com a atualidade, marcada pelas redes sociais e as mensagens instantâneas. Também não teme em chamar os “manos” para a luta: “O futuro é uma bala perdida, meu filho / Mas é você quem aperta o gatilho” E muito menos os mais favorecidos: “Empresário, / Não adianta só assinar campanha do agasalho / Queremos autógrafo na carteira de trabalho!”.

Com homenagens a Sabotage e Nelson Triunfo, Renan Inquérito declara em “Destino”: “Queria cantar como Tim, tocar como Tom, / Jogar que nem o Pelé, escrever igual Drummond / Mas, eu sem o rap ia ser um Bezerra sem a malandragem / Timão sem Fiel, Zumbi sem coragem / Um crente sem bíblia, o Sabotage sem o Canão / Um bar sem bebida, Brasília sem ladrão”.

“#PoucasPalavras”, portanto, é uma obra que esbanja urgência e precisa ser lida rapidamente, como um rastro de pólvora que se consome e explode nas ruas, e comprova a força da literatura que é feita nas perferias do país, de maneira quase anônima, mas de modo muito mias organizado e verdadeiro do que muitas das obras que ocupam as vitrines das principais livrarias. Nem a imprensa escapa da “roleta russa”: “A impressora da imprensa  é a jato de sangue / Recarrega os cartuchos a cada bang-bang”; Graças a Deus que nem toda imprensa é assim, né, Renan Inquérito? Ainda há muitos repórteres e jornalistas que escapam dessa carnificina e tentam registrar a sociedade em sites, revistas, jornais e emissoras de rádio e televisão. A conclusão parece vir em “Arma Branca”: “Só vai ganhar a GUERRA / Quem se armar de PAZ”.

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