espelho da desigualdade

Crise econômica, urbanização e promessas eleitorais produzem cidades fantasmas pelo mundo

China, Angola, Espanha e EUA enfrentam problema que pode se repetir no Brasil, como mostra a involução da indústria automotiva no ABC Paulista

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Detroit: com a crise de 2008, a situação econômica da cidade norte-americana foi piorando, principalmente com o fechamento das fábricas de automóveis

São Paulo – Quando se fala em cidade fantasma, logo a gente pensa em filme de terror. Mas elas são mais comuns do que a gente imagina. Recentemente, na China, a cidade de Ordos ficou conhecida como uma das maiores cidades fantasma do mundo. Com prédios, casas, avenidas e toda a infraestrutura necessária para milhares de pessoas, Ordos é vazia. É raro ver alguém andando pela calçada ou carros nas ruas.

Apesar de misteriosa, Ordos faz parte de um grupo de cidades que o governo chinês construiu para serem ocupadas aos poucos, conforme as pessoas vão se mudando de áreas rurais para as grandes cidades. Assim, o governo pretende garantir que o crescimento seja ordenado e planejado. “Ainda não dá para saber se isso vai dar certo ou não”, comenta o jornalista Rodolpho Gamberini, em reportagem do Planeta Azul.

Há um outro tipo de cidade fantasma, criada por outro motivo. Uma delas é Kilamba, em Angola, que ficou pronta em 2012, entregue como parte das promessas eleitorais do presidente José Eduardo dos Santos. A cidade tem capacidade para 500 mil habitantes, mas até hoje é quase desabitada.

A maioria da população angolana vive abaixo da linha da pobreza. Mesmo com o incentivo governamental, pouca gente tem condição de comprar um imóvel. Assim Kilamba continua desabitada, uma autêntica cidade fantasma.

Na Espanha, algo parecido aconteceu em Cirueña, uma cidade pequena no norte do país. No início dos anos 2000, o governo, junto com a iniciativa privada, construiu uma cidade com capacidade para 10 mil pessoas. São casas, apartamentos, restaurantes, lojas e oficinas e até um clube de golfe. Mas em 2008 a crise econômica mundial impediu o processo de povoamento. Só algumas centenas de pessoas moram hoje em Cirueña, mesmo com toda a infraestrutura para acomodar uma população muito maior.

Em Detroit, nos Estados Unidos, a crise fez com que uma metrópole um dia rica e cheia de vida se transformasse numa cidade fantasma. Com a crise de 2008, a situação econômica local foi piorando, principalmente com o fechamento das fábricas de automóveis, que há décadas estavam instaladas em Detroit. A população, que já foi de 1 milhão e 800 mil habitantes na década de 1950, caiu para apenas 680 mil em 2015. Pobreza, crime e problemas com drogas aumentaram na cidade em 2013. Detroit faliu, não conseguir arcar com os serviços básicos e uma intervenção federal evitou o colapso total.

Recentemente, em São Bernardo do Campo, a Ford fechou a fábrica que mantinha há 50 anos e demitiu milhares de pessoas. Outra montadora, a General Motors, anunciou que também vai fechar sua fábrica na região. Será que o mesmo destino de Detroit espera essas cidades? Será que teremos novas cidades fantasmas criadas pela crise econômica agora aqui no Brasil?

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