Elias Andreato mostra sua maestria teatral ‘O Andante’

Elias Andreato brilha em O Andante (João Caldas / Morente Forte) O paranaense de Rolândia, Elias Andreato, de 57 anos, é um dos maiores nomes do teatro brasileiro e confirma […]

Elias Andreato brilha em O Andante (João Caldas / Morente Forte)

O paranaense de Rolândia, Elias Andreato, de 57 anos, é um dos maiores nomes do teatro brasileiro e confirma mais uma vez o porquê em O Andante, no qual atua, dirige, junto com André Acioli, e também assina o roteiro, o cenário e os figurinos. Em cartaz no Teatro Eva Herz, em São Paulo, até 30 de março, o artista demonstra toda sua versatilidade num espetáculo que é a oitava experiência solo dele e em que as palavras adquirem uma profundidade que poucas vezes se viu em cena.

Com o palco preenchido apenas com o detalhe do centro de uma praça e um carrinho de supermercado cheio de bugigangas, o qual empurra de um canto para o outro, Elias Andreato interpreta um misto de mendigo, carroceiro e andarilho, que caminha pelo mundo em busca do conhecimento trazido e adquirido através das palavras. Em muitos momentos os pensamentos podem até parecer desencontrados, mas, em outros, batem e ecoam de modo extremamente profundo.

Um dos momentos mais belos do espetáculo é quando o Andante declara que entre o riso e o choro há apenas o nariz. E levar de um sentimento ao outro em questão de instantes é o que consegue Elias Andreato, com expressões faciais muito convincentes, assim como sua movimentação corporal. É impossível não se envolver e se emocionar com o espetáculo, e perceber como tipos como esse fazem parte da nossa rotina, mesmo que finjamos ignorá-los e que a loucura, o delírio e também a lucidez fazem cada vez mais parte da vida das pessoas, independente das condições a que estejam submetidas. Ou seja, as facilidades das possíveis críticas sociais não ocupam o primeiro plano, já que este é preenchido por questões e pensamentos mais existenciais.

A iluminação de Wagner Freire é extremamente emotiva, ou seja, ajuda a acentuar ainda mais o universo interno do personagem. Ou seja, quando ele parece radiante, a luz parece se espalhar pelo espaço, fornecendo mais vida à cena. Já nos instantes mais melancólicos ou introspectivos, a luz se fecha no ator. O mesmo pode ser dito com relação a trilha sonora (aqui entendida como música, fala e efeitos sonoros, como ruídos), criada por Daniel Maia, com destaque para a mixagem de uma gravação realizada pelo próprio Elias Andreato, a partir de uma das frases do texto, que parece ecoar como uma canção eletrônica na cabeça do personagem.

Elias Andreato atua profissionalmente desde 1977, quando participou de uma montagem de Pequenos Burgueses, de Máximo Górki, dirigida por Renato Borghi. Desde então, trabalhou em espetáculos emblemáticos como Calabar, o Elogio da Traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra; Lua de Cetim, de Alices Nogueira; Hello! Boy”, de Roberto Gil Camargo; Lago 21, baseado em textos de William Shakespeare e Anton Tchekhov; e Sexo dos Anjos, de Flávio de Souza, que lhe garante prêmios Shell, Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) e Apetesp, entre outros.

Serviço
Peça O Andante. Sábados, às 18h. Até 30/3
Ingressos – R$50
Teatro Eva Herz – Livraria Cultura Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2073
T: (11) 3170-4059

[email protected]