O Bem Amado: uma paródia da mentira

Envelhecido como sátira política, o filme O Bem Amado não alcança as críticas que representava

Redação de “A Trombeta”, jornal de oposição de Sucupira (Foto: Divulgação)

Dirigido por Guel Arraes, com atores e atrizes de primeira grandeza, o filme “O Bem Amado” não empolga, é arrastado e parece “encher linguiça”. Enquanto as filmagens de rua são pobres – algumas ruas, uma praça, o mar e nada mais – o que faz o espectator concluir que aquele lugar não existe – o figurino tem os exageros adequados para dar comicidade aos personagens.

Hoje, esse filme está longe de um sátira política no Brasil, pois por aqui a política está longe de Odorico, Sucupira e de inauguração de cemitério. Até as frases de efeitos que tanto popularizaram Odorico e Paulo Gracindo perderam força no filme. Odorico vira um repentista que, com seus trocadilhos e invenções, consegue tirar alguns risinhos dos espectatores, mas nenhuma grande gargalhada.

O problema dos filmes brasileiros e a panelinha dos atores globais ressurgem em “O Bem Amado”. É inevitável uma associação com “A Grande Família”, pois Marco Nanini contracena diretamente com Tonico Pereira, os mesmos da série da televisão, rodeados por Andrea Beltrão. Dona Nenê, do seriado da Globo, poderia muito bem ser uma das Cajazeiras.

O embate entre situação e oposição, que demora muito a ser resolvida, e as paqueras das cajazeiras por Odorico, lentas e indefinidas, tiram a agilidade do roteiro e aceleração das sequências e o apressamento do tempo ficcional não conseguem tirar o filme da lentidão. A atuação dos atores é exuberante, utilizam todas as técnicas, caras, bocas e roupas para delinear os personagens.

Destaque negativo para Dirceu Borboleta, que perdeu a antimalícia para ser um eficiente chefe de gabinete e positivo para José Wilker, com um noir Zeca Diabo. Para quem conhece a história, apreciar o desempenho dos atores e atrizes é a boa atração do filme, onde todos são canastrões.

Divertidas são as cenas de banhistas fugindo do mar diante do anúncio de que há tubarão por ali, mentira do jornal “A Trombeta”, de oposição, para acabar com o turismo e a arredacação de impostos em Sucupira, pois lembram cenas do filme “O Tubarão”. E a passagem que o editor do mesmo jornal ameaça lançar uma campanha da febre amarela, que de fato, ocorreu nos jornais paulistas.

Além de canastrões, todos os personagens mentem. Mais que uma metáfora política do Brasil, o filme é uma paródia da mentira.