Dilma e Alckmin

Na imprensa, não se falou em outra coisa na semana passada a não ser a respeito da presença de Dilma ao lado dos tucanos Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin. […]

Na imprensa, não se falou em outra coisa na semana passada a não ser a respeito da presença de Dilma ao lado dos tucanos Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin. O ex-presidente Fernando Henrique joga para a imprensa.  E a  imprensa, já está em campanha eleitoral para o PSDB. A Alckmin interessa associar seu governo e sua figura à área social, sobretudo ao Bolsa Família, marca do PT.

Uma observação corriqueira ganhou até destaque. “O governador paulista Geraldo Alckmin passou a tratar Dilma como presidenta,tratamento usado por petistas e aliados do Planalto”, escreveu a Folha de S.Paulo.

Antes da imprensa, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), reconheceu que a presidenta avançou em algumas áreas, como o combate à pobreza e à miséria, e acertou na manutenção da política econômica… Em seguida, Alckmin tomou para si promessa de campanha e um dos principais programas da presidente Dilma Rousseff (PT) e disse que pretende erradicar a pobreza extrema no Estado até 2015.

Sem faxina

 Eduardo Azeredo, é réu na Ação Penal 536, respondendo pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, o esquema capturou mais de R$ 100 milhões, com desvio de verbas de estatais a campanha de Azeredo.  O PSDB, não fez faxina no Mensalão de Minas.

Coincidência?

A solenidade do Brasil sem Miséria com o tucanato foi justamente em São Paulo, onde está o curral eleitoral do PSDB. E Alckmin quer se reeleger. Dilma não se deixou seduzir. Durante o discurso, ela lembrou das ações de seu antecessor, o ex-presidente Lula, e citou que na gestão de Lula  40 milhões de pessoas ascenderam à classe média. “Essa é a herança bendita que o governo Lula me legou”, disse, na cara dos tucanos.

A imprensa esquece, Lula, presidente, e Serra, governador, também trocavam gentilezas em público. Elas cessaram na campanha. Quem não lembra de Lula pedindo para o público não vaiar Serra  governador em um evento no qual os dois participavam no ano passado?

A real intenção de FHC

Fernando Henrique Cardoso, que também esteve no Palácio dos Bandeirantes para a assinatura de pacto dos estados com o programa federal Brasil Sem Miséria, defendeu que o PSDB dê apoio à presidente Dilma na “faxina” nos ministérios envolvidos em suspeitas e acusações de corrupção. Uma “faxina”, aliás, que FHC nunca fez  nos seus oito anos de governo.

O que quer FHC e o PSDB? Voltar ao poder. E com ajuda da imprensa, tentar colar a idéia  de que o governo Lula foi o mais corrupto da história. O motivo é o temor de uma eventual volta do ex-presidente petista, candidato teoricamente bem mais difícil de ser superado em 2014.

Para lembrar

Serra, Alckmin, Aécio Neves e FHC, nunca combateram a corrupção em suas gestões, apesar de escândalos terem sido revelados. Fernando Henrique e o PSDB nunca fizeram CPI. Portanto, nunca fizeram faxina.

O governo de Fernando Henrique foi conivente com a corrupção. Um dos primeiros gestos de FHC ao assumir a Presidência, em 1995, foi extinguir, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, instituída no governo Itamar Franco e composta por representantes da sociedade civil, que tinha como objetivo combater a corrupção.

Em 2001, impediu que houvesse investigação a instalação de CPI (confira casos de corrupção do período). Em 2001, para impedir a instalação da CPI da Corrupção, FHC criou a Controladoria-Geral da União, órgão que se especializou em abafar denúncias. Para abafar os casos de corrupção, dizia-se à época que Fernando Henrique Cardoso, em vez de procurador-geral, tinha um “engavetador geral da república”.

Geraldo Brindeiro foi nomeado em 1995 e reconduzido ao posto por três períodos. Cálculos do período indicam que, de 626 inquéritos criminais que recebeu, engavetou 242 e arquivou outros 217. Apenas 60 denúncias foram aceitas e nenhuma autoridade viu seu processo alcançar o final com uma condenação. Houve acusações contra 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e quatro voltadas ao próprio FHC.

 

Jogo de interesses

Na análise do jornalista e editorialista da Folha, Fernando de Barros em artigo a respito, “FHC encontrou em Dilma uma aliada insuspeita para recompor a imagem histórica de seu legado, aviltado anos a fio por petistas e tucanos, a começar por Serra”. Segundo o jornalista, Dilma considera que teria vantagens ao “distensionar as relações” com a oposição e com a imprensa.

Barros e Silva acredita que a posição de “alguém que quer moralizar a política” permitiu à presidenta cair “no gosto das classes médias”. Vale lembrar, porém, que a sequências de suspeitas de corrupção, apesar da reação rápida do Executivo, significou perda de popularidade, segundo pesquisas do Ibope e do Instituto Sensus.

Mas Dilma, desde o início, acredita que pode se beneficiar.

* Helena Sthephanowitz™ é jornalista e autora do blog Os Amigos do Presidente Lulae do Os Amigos do Brasil. Ela escreve no Na Rede, da Rede Brasil Atual.