Se-te-cen-tos. Sete, zero, zero. É o contrário daquele agente secreto. E é também o número de vezes que eu escrevi aqui em você. Isso mesmo, Diário, já te abri setecentas vezes para contar como foi o meu dia, o que eu pensei e o que eu senti. Opa, sentir, não, que sentir é frescura.

Setecentas é a cilindrada de motos que eu gosto, é um modelo bacana de rifle Remington, é o preço que eu paguei num par de tênis e é também o número de milhares de mortos pela covid (o oficial é um pouco menor, mas, no começo, muitos que morriam de covid eram catalogados como “insuficiência respiratória”, então vou dar uma arredondada).

Ah, Diário, quem diria que eu chegaria até aqui?

Sobrevivi ao Mourão esfregando as mãozinhas pra me dar um golpe, sobrevivi a 145 pedidos de impeachment (obrigado, Lira, você valeu cada centavo), sobrevivi à Globo e à Foice de São Paulo.

Setecentos é um número bonito, porque tem o sete, que é o número de pecados (será que tem algum que eu não cometi? Preciso ver isso daí) e o zero, que sempre me lembram meus filhos.

Esses dias, como eu sabia que ia escrever o texto 700, perguntei pra Damares o que esse número queria dizer. Aí ela fez aquele ritual lá dela: tirou uma goiaba do bolso e quebrou a fruta no meio com os dedos. Apareceram um monte de bichinhos em cada metade. Mas ela não ligou e comeu tudo em quatro bocadas. Então, com um fio vermelho escorrendo pelo queixo, ela fechou os olhos, começou a entrar em transe e disse:

“Presidente, o número sete simboliza o conhecimento, o aprendizado e a sabedoria interior, o desenvolvimento espiritual, o despertar e a cura. Já os zeros simbolizam os finais, os novos começos e as mudanças de fases. Ou seja, esses números juntos, formando o 700, são uma mensagem de seus anjos da guarda, pedindo que o senhor seja paciente, porque em breve experimentará as recompensas por suas ações nessa vida.”

Poxa, Diário, aquilo me deixou muito contente. Será que finalmente eu vou ser recompensado por tudo o que eu fiz?

Ah, tomara, tomara…

#diariodobolso