Diário do Bolso

Que vergonha…, que desgraça…, que tristeza, ontem eu perdi voto. Ah, perdi

Mas é que ontem fui num clube de tiro em Brasília, só pra dar uma de machão matador, e…, ah, Diário, não consigo escrever isso…, me desculpe… vou parar por uns cinco minutos

Carolina Antunes / PR
Carolina Antunes / PR

Ah, Diário, que vergonha… Nem consigo escrever direito.

Agora são sete da manhã, estou aqui sentado na privada presidencial, com o notebook no colo, só usando a faixa presidencial, mas não consigo contar o que me aconteceu ontem. Não consigo…

Que desgraça…, que tristeza…

Ontem eu perdi voto, Diário. Ah, perdi…

Não foi por causa da inflação de 10%, por causa das mais de seiscentas mil mortes por covid, por causa de algum dos meus ministros malucos, por eu ser contra máscara e vacina, por eu ser a favor da tortura, por eu ter dito que a ditadura tinha que ter matado mais trinta mil, por eu ter falado que preferia um filho morto a um filho gay e não foi por eu ter dado sei lá quantos bilhões pro Centrão.

Não, nenhuma dessas bobeirinhas me atinge. O meu pessoal até gosta.

Mas é que ontem fui num clube de tiro em Brasília, só pra dar uma de machão matador, e…, ah, Diário, não consigo escrever isso…, me desculpe…, vou parar por uns cinco minutos.

(…)

Pronto, já enxuguei as lágrimas na faixa presidencial. Estou sempre com ela. Principalmente aqui no banheiro. É que o pessoal da manutenção sempre esquece de colocar papel higi…, bah, deixa pra lá.

Bom, Diário, o que aconteceu foi que ontem, plena segunda-feira, em vez de trabalhar fui num clube de tiro e…, como é que eu vou dizer? Ah, não tem outro jeito, vou falar de uma vez só: minha arma não disparou.

É isso mesmo, Diário. Minha arma não disparou. Me esqueci de tirar a trava. E era uma pistola automática, daquelas que qualquer criança usa.

Os caras do Republicanos estão querendo pular fora do meu barco

Pra piorar, o Carluxo e o instrutor tentaram me ajudar. Pô, vexame completo. Aí ficou mais na cara ainda que eu não entendo nada de arma.

Isso a minha turma não perdoa. Como é que eu digo “Minha especialidade é matar” e não consigo dar um tirinho com uma pistola automática?

Tudo bem dizerem que eu não sei governar, que eu não sei fazer piada, que eu não sei nem mastigar camarão. Mas, se esse negócio de que eu não sei atirar se espalha, vai manchar minha reputação.

Vão dizer que meu tiro sai pela culatra, que eu dou tiro no próprio pé, que só sei fazer arminha com os dedos.

Ah, que vergonha, Diário, que vergonha…

Torero

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