Diário, eu voltei.

Pena que não foi uma festa tão grande como eu esperava. Só tinha umas cem pessoas no aeroporto. Queria umas mil. Com choro, gritos e desmaios.

Aliás, outra coisa que estragou a recepção foi que um sujeitinho que viajou no mesmo avião que eu saiu da alfândega fazendo um “L”. E a minha turma não deu nem um piparote na orelha dele. Pô, medo de cadeia agora? A única coisa que um fã meu fez foi gritar “Vai pra Venezuela!”. Mas o cara respondeu: “Eu estava na Disney, otário”.

No avião, no começo da viagem, teve umas palmas. Mas alguém gritou “cadeia!”. E isso me estragou a noite, porque acabei sonhando que estavam me colocando na mesma cela que o Roberto Jefferson. Aí ele me ofereceu uma arma e disse: “Meu fuzil está às suas ordens.”

Outra coisa que eu não gostei foi que o avião em que eu vim estava adesivado com umas coisas do Harry Potter. Aposto que por causa disso vai ter gente dizendo “o Voldemort voltou”.

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Na hora do pouso, puxaram de novo umas palmas, mas uma menina fez o “L” com os dedos, só por causa que o pai dela morreu de covid uns dias antes de começar a vacinação que eu atrasei. Pô, por um motivinho desses deixa de me aplaudir? Tanta gente perdeu a família inteira por minha causa e continua gritando “mito”. Ingrata!

Uma coisa triste é que agora, sem cartão corporativo, vou ter que pagar minhas contas. Mas como, pô!? Somando minhas duas aposentarias, de militar e de presidente, dá só R$ 47 mil. Quem vive com uma merreca dessas? Ainda bem que o PL vai me pagar uns R$ 40 mil como presidente de honra do partido e mais R$ 33 mil pra Micheque, digo, Michelle. Isso é para a gente apoiar os candidatos do partido nas eleições. É um bom investimento, porque assim o PL elege muita gente e continua recebendo um Fundo Eleitoral milionário.

Bom, Diário, aí eu vim pra minha nova casa e dormi. Mas sonhei de novo que estava indo para a cadeia. Só que, dessa vez, quem tava me esperando eram o Gabriel Monteiro e o Daniel Silveira. Os dois estavam cobertos por colares de diamantes. E, abrindo os braços, falaram assim: “Entra, entra, aqui tá tudo joia, capitão”.

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