Barbara Paz é consumista e viciada em excessos no ótimo espetáculo ‘Hell’

Barbara Paz em cena de “Hell”: devaneios consumistas e superficialidade das relações humanas (Foto: ©João Caldas/Divulgação) Um pequeno espaço localizado num dos cantos do palco é ocupado com vários sapatos […]

Barbara Paz em cena de “Hell”: devaneios consumistas e superficialidade das relações humanas (Foto: ©João Caldas/Divulgação)

Um pequeno espaço localizado num dos cantos do palco é ocupado com vários sapatos e bolsas de grife, uma cadeira e uma mesinha com um abajur. Uma atriz fuma e fala o tempo todo os mais absurdos devaneios, representando uma geração de jovens milionários que gastam, transam e usam drogas o tempo todo, vagando praticamente a esmo por entre locais da moda e diante de vitrines chiquérrimas e representadas por outro espaço em cena. A personagem é símbolo de jovens marcados pelo imenso vazio provocado pelo excesso em todas as instâncias.

Assim pode ser definido um dos melhores espetáculos teatrais atualmente em cartaz em São Paulo. Mas “Hell” é muito mais do que isso. A terceira experiência na direção teatral do cineasta Hector Babenco, que a divide com Murilo Hauser, e primeira adaptação do romance best-seller autobiográfico da milionária francesa Lolita Pille, que tinha 21 anos quando o escreveu, pode ser visto até 15 de abril.

Durante 75 minutos, Barbara Paz dá um show de interpretação e faz o público começar rindo dos pensamentos desencontrados e em voz alta de uma personagem que mistura dramas existenciais com artigos de luxo que compra às dezenas, sem saber muito bem o que fazer com eles. Até que conhece outro milionário, Andrea, também muito bem interpretado por Paulo Azevedo, que só pensa em se divertir com mulheres riquinhas e torná-las seres submissos.

Em meio às dificuldades de saberem lidar com o afeto e os próprios sentimentos, Hell e Andrea vivem uma relação amorosa intensa e destrutiva, protagonizando uma história de amor com a intensidade de “Romeu e Julieta”, mas com fortes marcas do século XXI, representadas por viagens desvairadas e sem sentido por redutos europeus. Apesar de ser ambientado na Paris dos Champs-Élysées o espetáculo poderia muito bem se passar em Nova York, Tóquio, São Paulo ou qualquer outra grande metrópole.

Se, no início, a plateia dá algumas risadas divertidas diante dos pensamentos egocêntricos, niilistas e até mesmo maldosos de Hell, aos poucos, uma sensação amarga vai tomando conta de todos. Esse envolvimento com o espetáculo é acentuado pela concepção de imagem desenvolvida por Giovanni Bianco, responsável pelos figurinos, visagismo e design; e pela iluminação requintada e dramática desenvolvida por Beto Bruel. Porém, um dos pontos mais altos do espetáculo é a trilha musical e os ruídos desenvolvidos por Murilo Hauser, principalmente quando Andrea entra em cena e o público, estupefato, acompanha a versão dele a respeito dos fatos. Eis aqui outro ponto bastante positivo da adaptação realizada por Babenco e Marco Antonio Braz.

“Hell” traça um painel dramático de uma geração de filhos de milionários, que, em meio ao consumismo desvairado, a falta de objetivos e ao excesso, principalmente de drogas, verbaliza apenas pensamentos contraditórios marcados por um penoso e dramático vazio existencial. É necessário, portanto, estar preparado para encarar esse espetáculo, uma vez que ninguém deixará o teatro impunemente.

Serviço
Peça “Hell”
Até 15 de abril. Sextas-feiras e sábados, às 21h, e domingos, às 19h
Ingressos: R$70
Teatro Eva Herz – Avenida Paulista, 2073. Livraria Cultura / Conjunto Nacional
T: (11) 3170-4059

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