Cúpula dos Povos firma Pacto do Rio e prepara agenda global de lutas

Maior manifestação popular da Rio+20 pode ter sido marco inicial de nova fase do ativismo socioambiental (Foto: Lucas Duarte/RBA) Rio de Janeiro – A julgar pela ausência de compromissos concretos […]

Maior manifestação popular da Rio+20 pode ter sido marco inicial de nova fase do ativismo socioambiental (Foto: Lucas Duarte/RBA)

Rio de Janeiro – A julgar pela ausência de compromissos concretos no documento até aqui acordado pelos governantes no evento oficial da Rio+20, a agenda ambiental internacional para os próximos meses não será muito agitada. No que depender da mobilização das organizações da sociedade civil, ao contrário, o que se espera é que a Cúpula dos Povos seja o ponto de partida para uma retomada da efervescência da luta socioambiental em todo o mundo.

Último ponto de pauta da Assembleia dos Povos, momento culminante da Cúpula, uma agenda de lutas global será definida na sexta-feira (22) e, de acordo com a pretensão dos ambientalistas, unificará de maneira inédita os diversos setores do movimento.

Na grande manifestação de rua da tarde de quarta-feira (20) – que reuniu, segundo seus organizadores, cerca de 80 mil pessoas no Centro do Rio – a disposição para a adoção de uma consistente agenda internacional de lutas transpareceu nas intervenções de ativistas de todos os continentes. Dirigente da Via Campesina e do MST, o brasileiro João Pedro Stédile fez um “chamado à unidade de toda a classe trabalhadora mundial contra os usurpadores dos recursos naturais dos povos” e propôs a criação do Pacto do Rio de Janeiro, documento que sintetizará as bandeiras unificadas que o movimento socioambientalista defenderá no período pós-Rio+20.

Após criticar o evento oficial da Rio+20 e afirmar que a crise tem nome e sobrenome – “o capitalismo e as corporações transnacionais” – Stédile disse que a Cúpula dos Povos pode representar um momento histórico: “Propomos o pacto dos povos em luta para que voltemos aos nossos locais de origem e façamos todos os dias nossas lutas contra os inimigos certos”, disse o dirigente dos trabalhadores rurais sem-terra.

As dificuldades impostas pela crise financeira global impediram que viessem ao Rio delegações mais numerosas de setores dos movimentos sociais com menos recursos ou localizados em países mais distantes do Brasil. Ainda assim, a participação internacional na Cúpula dos Povos foi considerada satisfatória pela coordenação do evento.

“Diante das dificuldades financeiras, a presença internacional atendeu às nossas expectativas. Mesmo os movimentos que não puderam vir em grande número, enviaram representantes e estarão presentes nas manifestações globais que começarão daqui pra frente. Estão aqui conosco, por exemplo, ativistas do Movimento Occupy, dos estudantes europeus e da Primavera Árabe”, diz Carlos Henrique Painel, integrante do Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos.

Assembleia dos Povos

 A internacionalização da Cúpula dos Povos deverá se traduzir na apresentação de propostas que começará a ser feita nesta quinta-feira (21) na Assembleia dos Povos, a partir da sistematização realizada nas cinco plenárias temáticas que precederam a assembleia final. Na plenária que discutiu economia e o mundo do trabalho, por exemplo, usaram a palavra representantes de 35 países que apresentaram propostas sobre economia verde, trabalho decente, divisão sexual do trabalho e impacto do agronegócio sobre os trabalhadores, entre outras.

As propostas aprovadas na Assembleia dos Povos serão apresentadas ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, em uma reunião com dirigentes da Cúpula dos Povos durante um encontro de uma hora marcado para a manhã de sexta-feira (22). Participarão da conversa com o líder da ONU trinta e oito representantes de organizações de diversos países, e usarão a palavra Iara Pietricovsky (Brasil), Sharan Burrow (EUA), Mnimmo Bassey (Nigéria), Nettie Wiebe (Canadá), Mercia Andrews (África do Sul) e Antônio Marcos de Oliveira (representando as nações indígenas).