Cúpula dos Povos é palco de críticas à Rio+20 e ao encontro do G-20

Os integrantes do evento paralelo à Rio+20 consideram que se perde a oportunidade de incluir os povos no debate (Foto: Giuseppe Bizzarri/Folhapress) Rio de Janeiro – O fosso político que […]

Os integrantes do evento paralelo à Rio+20 consideram que se perde a oportunidade de incluir os povos no debate (Foto: Giuseppe Bizzarri/Folhapress)

Rio de Janeiro – O fosso político que separa a Cúpula dos Povos da conferência oficial da Rio+20 tem feito com que o evento paralelo organizado pela sociedade civil se torne também um canal de expressão para a insatisfação das delegações governamentais que discordam dos rumos tomados até aqui nas negociações realizadas no Riocentro. Um dos insatisfeitos é o ex-ministro da Água da Bolívia, René Orellana, que chefia a delegação de seu país na Rio+20 e, falando em nome da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), esteve com dirigentes da Cúpula dos Povos para manifestar o descontentamento do grupo com o evento oficial.

Orellana afirmou que os países da Alba (aliança formada também por Venezuela, Cuba, Nicarágua, Equador, Antígua e Barbuda, San Vicente e Granadinas e República Dominicana) “querem discutir o futuro do planeta sob a ótica dos povos” e que a discussão no Riocentro está muito distante do que foi abordado na Cúpula Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas, em Cochabamba, realizada há dois anos. “Com o discurso da economia verde, que é um grande logro, e seu enfoque privatista, a Rio+20 mantém a visão de que não há limites para a exploração da natureza”, disse.

Além da Alba, o grupo de países do G-77, segundo Orellana, também já se posicionou de maneira unificada contra a adoção do modelo proposto pela ONU. “Os países ricos querem substituir a cooperação internacional pela caridade privada. Além disso, se recusam a efetivamente transferir tecnologia para que os países pobres possam se desenvolver sem agredir a natureza”, enumerou. O chefe da delegação boliviana criticou a ONU por não discutir a mudança dos padrões de produção e consumo nas nações mais industrializadas: “Enquanto esse debate é negligenciado, cerca de 700 milhões de toneladas de alimento são desperdiçadas anualmente pelos países ricos”. 

Aos integrantes da Cúpula dos Povos, Orellana pediu ajuda para reverter os rumos da Rio+20 com mobilizações de rua. “Ainda vamos buscar acordos no documento da Rio+20, por isso a pressão dos povos nas ruas é muito importante”, disse. O objetivo, segundo ele, é evitar retrocessos nas políticas ambientais globais: “A Rio-92 deixou uma base importante com as três convenções que foram criadas (Diversidade Biológica, Mudanças Climáticas e Desertificação). Esperamos que a Rio+20 não retroceda 40 anos”. 

Repúdio ao G-20

Em outra ação política que marcou suas diferenças com os principais eventos governamentais que acontecem no mundo, a Cúpula dos Povos divulgou uma nota pública na qual critica o encontro dos governantes dos países que integram o G-20, iniciado nesta segunda-feira (18) na região mexicana da Baja Califórnia. O documento afirma que “não é pura coincidência que a Cúpula do G-20 se realize dois dias antes da Rio+20” e denuncia a realização uma manobra dos países mais ricos para influenciar a Conferência da ONU no Rio de Janeiro. 

“A presença no México dos presidentes das maiores economias, muitos dos quais não virão ao Rio de Janeiro, complementa as notícias de que as principais decisões da Rio+20 já chegarão em um pacote pronto e definido pela reunião do G-20. Assim, a atual correlação de forças no mundo utilizará mais uma vez o caminho da imposição de sua lógica dominante”, afirma a nota assinada pelo Grupo de Articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20 e a Cúpula dos Povos. 

A nota afirma que a Cúpula dos Povos “repudia e denuncia esta ação do G-20 que reforça não só o sistema econômico que vem promovendo a mercantilização e a financeirização da natureza, como, sem nenhum pudor, já impõe o sequestro das democracias do mundo”. O documento diz ainda que “as consequências da atitude antidemocrática, predatória e gananciosa dos governos dos países mais desenvolvidos, a serviço dos interesses de suas corporações, serão com certeza dramáticas para o futuro do planeta e da sua população”.