CPI é fato consumado, mas Bonner ainda avisa que parlamentares podem recuar

O noticiário da TV Globo agiu para tentar abortar a CPI do Cachoeira nos últimos dias, aliás em conjunto com os outros dos maiores veículos de comunicação do Brasil: Veja, […]

O noticiário da TV Globo agiu para tentar abortar a CPI do Cachoeira nos últimos dias, aliás em conjunto com os outros dos maiores veículos de comunicação do Brasil: Veja, Folha e Estadão.
O noticiário inverteu os fatos. Senadores e deputados petistas, inclusive os líderes que falam pela bancada, davam declarações, faziam discursos e emitiam notas contundentes exigindo a instalação da CPI do Cachoeira.

Mas o Jornal Nacional noticiava que o PT estava recuando. O Palácio do Planalto não interferiu de fato na instalação da CPI, pelo contrário. Falou que era assunto do Congresso, mas o noticiário plantava notas dizendo que o Planalto pressionava contra. Talvez o JN quisesse dar a desculpa necessária aos parlamentares que estavam receosos de assinar o requerimento pela investigação, para não assinarem.

Além disso, o telejornal tentou intimidar com denuncismo. Requentou factóides antigos, endossou boatos como se já fossem “graves denúncias”, inverteu interpretação de diálogos gravados pela Polícia Federal, cortou trechos para mudar o contexto, como se desse uma prévia do que viria a ser o ambiente midiático caso a CPI fosse instalada, tudo para assustar parlamentares receosos de escândalos respingarem neles.

Não adiantou. Na noite de terça-feira (17), o pedido de abertura da CPI mista foi protocolado com a assinatura de 330 deputados e 67 senadores.

E o Jornal Nacional parou? Que nada. Ele deu a notícia, e continuou especulando ao dizer que o governo trabalha para ter controle sobre os principais cargos na comissão.

O telejornal sonegou do telespectador a informação de que, pelas regras de sempre, numa CPMI, a maior bancada no Senado fica com a presidência, portanto cabe ao PMDB, e a maior bancada da Câmara fica com a relatoria, portanto será do PT. Isso é regra criada pelos parlamentares há muito tempo, nada tendo a ver com interferência do governo.

O JN também procurou desviar o foco da CPMI apenas para empreiteira Delta, que é apenas parte do todo.

O cômico foram as palavras finais de William Bonner. Mesmo com assinaturas de sobra para tornar a CPI irreversível, e sabendo que os segundos em um telejornal são preciosos para serem ocupados com frases supérfluas, o apresentador fechou com a frase: “Até a leitura do pedido de criação da CPI no plenário, prevista para quinta-feira (19), os deputados e senadores podem assinar ou retirar as assinaturas”.