nortes

Que recuperação econômica se aproxima?

País tende a, mais uma vez, seguir sem projeto de nova política econômica e social, com baixo dinamismo dos setores produtivos e estagnação da renda per capita nacional

CC 2.0 veditermini

Setores estratégicos que requerem investimentos em inovação perdem terreno sob a ótica do rentismo

Neste final do primeiro semestre de 2016, quando a desesperança se generaliza em torno do provisório governo Temer, não apenas no âmbito da política e da sociedade, como também na economia, o tema da saída da recessão econômica tem sido colocado em pauta. Sobre isso, aliás, há que se questionar, inicialmente, a respeito de qual recuperação econômica se está mencionando.

Ao se analisar a trajetória de longo prazo da economia brasileira identificam-se dois tipos principais de recuperação após ambientes recessivos. De um lado, a recuperação simples, que permite ocupar a capacidade ociosa gerada pela recessão anterior, desapegada da ampliação dos investimentos.

Neste sentido, a recuperação da economia possibilita elevar o nível de renda sem favorecer, contudo, o aumento da capacidade de produção. O resultado é a mera ocupação da capacidade produtiva ociosa desprovida da possibilidade de fazer com que o nível de atividade siga crescendo sustentadamente no período seguinte. O resultado é o baixo dinamismo e a estagnação da renda por habitante.

De outro lado, a recuperação complexa, que favorece tanto a ocupação da capacidade ociosa existente como a elevação da taxa de investimentos. Assim, a saída da recessão compreende as bases de um novo ciclo de expansão sólido, distante da situação de baixo dinamismo econômico ou mesmo de estagnação da renda per capita.

Nas quatro recessões às quais o Brasil esteve submetido, percebe-se que somente a recuperação de uma delas pode ser definida por complexa. Diante da profunda recessão no início da década de 1930, o governo provisório de Getúlio Vargas estabeleceu uma nova política econômica e social, que reverteu a tendência de queda da produção, ao mesmo tempo em que configurou o novo ciclo de crescimento de longo prazo da produção nacional.

Nas recessões de 1981 a 1983 e de 1990 a 1992, a recuperação econômica foi simplesmente a ocupação da capacidade ociosa a partir da melhora do setor externo, mas distante de uma retomada consistente dos investimentos. O que se assistiu de recuperação iniciada tanto em 1984 como em 1993 foram dois períodos seguidos de baixo dinamismo econômico, apontando para prevalência da estagnação da renda per capita nacional.

A recessão de 2009 foi estancada mediante a adoção de política econômica anticíclica de apoio ao mercado interno, cujo objetivo associado era o de inaugurar um novo ciclo de expansão dos investimentos. Pela reorientação da política econômica e social desde 2011, contudo, o investimento não voltou a ser acelerado, o que levou o país novamente ao baixo dinamismo da produção e à estagnação da renda per capita nacional.

Para a recessão atual, que se iniciou em 2015, constata-se fundamentalmente a reversão puxada pelo setor externo frente à desvalorização cambial. Diante do quadro recessivo, sobretudo no mercado interno, teria o setor externo capacidade suficiente para indicar a saída econômica, como verificado em 1984 e 1993?

Uma aposta que somente os próximos meses poderão confirmar ou não. De todo modo, se isso vier a acontecer de fato, o Brasil estará, possivelmente, reafirmando, mais uma vez, o padrão de recuperação econômica simples, que desacompanhado da elevação da taxa de investimento tende a promover tão somente o baixo dinamismo e a estagnação da renda per capita nacional.

*Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.