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Naomi Osaka, japonesa, negra e engajada

Tenista que acendeu a pira olímpica em Tóquio já entrou em quadra usando máscaras com nomes de vítimas da violência policial nos EUA. Conservador Japão sinaliza tolerância e engajamento

Peter Menzel/CC BY-SA 2.0
Peter Menzel/CC BY-SA 2.0
A organização dos Jogos escolheu acertadamente Naomi para ascender a Pira Olímpica

Se há um segredo guardado a sete chaves, durante as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos, este segredo é quem conduzirá por último a tocha que acenderá a pira olímpica. Nesta edição Tokio-2020 não foi diferente e o Japão revelou uma agradabilíssima surpresa ao mundo: a tenista e ativista Naomi Osaka, segunda no ranking da WTA foi a incumbida da missão.

Filha de mãe oriental e pai negro, haitiano, aos 23 anos Naomi se consolida como ícone mundial ao brilhar nas quadras, mas também como militante engajada na luta pela igualdade racial e saúde mental dos atletas.

A organização dos Jogos escolheu acertadamente Naomi para ascender a pira na abertura das atuais Olimpíadas. Com isso, passou linda mensagem sobre a diversidade, na voz de uma das mais ativas militantes contra o racismo. O tradicional e conservador Japão passou uma imagem de moderno, tolerante e engajado.

Noami usou de suas redes sociais para comemorar o feito histórico. “Sem dúvidas, o maior prêmio e honra que eu terei na minha vida. Não tenho palavras para descrever os sentimentos que tenho agora, mas sei que atualmente estou cheia de gratidão e agradecimento. Amo vocês, muito obrigada” disse Naomi.

Ativismo

Durante sua participação no último US Open, em agosto de 2020, Naomi entrou em quadra usando máscaras pretas em homenagem a George Floyd e Breonna Taylor, vítimas da violência racial por parte de policiais norte-americanos. “Quero que as pessoas comecem a falar desses problemas e por isso utilizei as máscaras ao longo das duas semanas” afirmou a tenista, na época.

Naomi Osaka também se negou a jogar a semifinal do torneio de Cincinnati (EUA), em resposta à morte de Jacob Blake, um homem negro baleado pela polícia, em Wisconsin. Na época, ela justificou sua atitude dizendo que antes de ser atleta era uma mulher negra, “e como uma mulher negra, sinto que há coisas mais importantes nesse momento que requerem imediata atenção, mais do que me assistir a jogar tênis”.

Recentemente, a tenista e ativista revelou ao mundo que desde 2018 vem sofrendo com longas crises de depressão e ansiedade. Por ainda estar em tratamento, se recusa a participar de longas coletivas de imprensa antes e após as partidas.

Naomi Osaka estreia nos Jogos de Tóquio às 23h da noite deste sábado (24), pelo horário de Brasília contra a chinesa Zheng Saisai. Quatro vezes campeã de Grand Slam e número 2 do mundo, ela não disputa uma partida oficial desde que abandonou o Aberto da França (Roland Garros) em maio, entre controvérsias pela sua decisão de não dar entrevistas coletivas no torneio para proteger a sua saúde mental.


* César Augusto Rodrigues é professor de Educação Física

Artigos desta seção não necessariamente expressam opinião da RBA