Julgamento dos petistas: prossegue onda sobre a moral da condenação

São Paulo – Prossegue nos grandes jornais a publicação de artigos associando o julgamento dos petistas, o mensalão e a formação moral dos brasileiros. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o […]

São Paulo – Prossegue nos grandes jornais a publicação de artigos associando o julgamento dos petistas, o mensalão e a formação moral dos brasileiros. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro Almir Pazzianotto Pinto, ambos em O Estado de S. Paulo, associaram o julgamento do chamado mensalão à formação do caráter da nova classe média, que pulou das classes D e E para C na retomada do crescimento econômico do país a partir do governo Lula e de seus programas sociais, com continuidade pela presidenta Dilma Rousseff. Os autores vêem na condenação dos petistas um reforço necessário à afirmação do caráter de trabalho, honestidade e integridade à nova classe C. 

No jornal O Valor Econômico de sexta-feira (6), o mesmo enfoque reaparece em texto de Saul Tourinho Leal, que alinha textos sobre felicidade, Estado e corrupção. Em resumo, o professor e pesquisador de Direito associa os “fatores que causam infelicidade tremenda e um deles é a corrupção”, aponta o papel do Supremo Tribunal Federal como determinamente para utilizar o julgamento e ofertar à sociedade algumas doses de felicidade. O próprio autor aceita que “a êxtase causada nas pessoas quando a Roma antiga atirava os cristãos aos leões nem sempre é a coisa certa a fazer”, mas defende a condenação como modelo para “minimizar  as sensações de infelicidade diante do fenômeno”. A alegria das massas nas arenas romanas e a moral associada ao julgamento remete a inúmeros outros julgamentos na história que, tempos depois, foram contestados.  

FHC e Pazzianotto escorregam em preconceitos de classes e ignoram o país por eles deixados, de miséria, desemprego e sucateamento da educação e saúde pública como os verdadeiros fatores de indução à criminalidade e à marginalização. Ou, ainda, omitem os fatores como privatização, ganhos rápidos no mercado financeiro especulativo como promotores do individualismo e da ambição predatória, bases do neoliberalismo contemporâneo imposto por seus governos durante oito anos.

Tourinho jubila-se com o espetáculo televisivo que virá no julgamento. “O mero fato de o Supremo apreciar o caso do mensalão, numa sessão pública transmitida ao vivo para todo o Brasil por meio de um canal de televisão, contribui para ampliação das sensações de felicidade dos brasileiros e insere o tribunal, mais uma vez, numa das mais fascinantes ciências atuais: a identificação, análise e mensuração da felicidade da sociedade nas suas relações com o Estado”.

Os réus desse julgamento rechaçam a pecha de “mensalão” que a mídia tacha como a “maior crise de corrupção do governo Lula”. Réus confessos como João Paulo Cunha e Delúbio Soares admitem ilegalidade em financiamento de campanha partidária ou ilegalidade fiscal, muito longe da lavagem de dinheiro ou do que seria o mensalão, uma prática de compra de partidos e votações na Câmara dos Deputados através de pagamento mensal de propinas, aliás negado pelo próprio autor da denúncia, Roberto Jefferson, por isso cassado por falta de decoro parlamentar.  

A formação moral dos brasileiros ou os conceitos de felicidade expressos nos três artigos estão longe das páginas do processo, mas turbiná-los agora serve para alimentar a pressão midiática na cobertura do julgamento para a obtenção de dividendos políticos e partidários. A maior prova disso é o calendário do julgamento, que coincide com a campanha eleitoral e a votação deste ano, o que é, sem dúvida, uma tentativa de se utilizar do Poder Judiciário para alterar a correlação de forças na escolha dos novos prefeitos e vereadores.