Diário, tem dedo-duro em tudo que é lado. O mundo virou um congresso de proctologistas! É sério, toda hora tem uma denúncia contra minha turma! Por exemplo, vazou mais um vídeo do Gabriel Monteiro, aquele garoto do MBL que é ex-PM, se elegeu vereador pelo meu partido e é bolsonarista de carteirinha. Dessa vez ele aparece assediando uma menina de dez anos. Vou ficar calado sobre o assunto. Se perguntarem se eu sei quem é Gabriel Monteiro, vou dizer que é uma rua no bairro de Pinheiros. O melhor cego é aquele que faz de conta que não viu.

Quer outro exemplo de dedodurismo explícito, Diário? Eu dou: um deputado alcaguete, o Elia Vaz, do PSB de Goiás, falou dos gastos das Forças Armadas, que compraram mais de um milhão de quilos de picanha, salmão e filé mignon de primeira, entre janeiro de 2021 e fevereiro deste ano. E, fora isso, compraram 35 mil pílulas de Viagra e remédio para calvície. Pô, mas querem que os caras comam o quê? Colchão duro? Sardinha? Ninguém merece.

E qual o problema de comprar Viagra, dedo-duro?

As Forças Armadas são a favor da ditadura e do dito duro, talkei? O pessoal tem que ser compreensivo, Diário. Querem que os caras me apoiem de graça? Não dá. Tem que ter uma picanhazinha, um camarãozinho, uma cervejinha, uma aposentadoriazinha especial…

Mas o pior que aconteceu esses dias foi que descobriram o esquema da empreiteira Engefort, a minha Odebréxiti. A Engefort ganhou a maioria das concorrências de pavimentação no meu governo. Já tem R$ 620 milhões reservados pra eles. E R$ 84,6 milhões já foram pagos. O dinheiro veio pelo caminho da Codevasf, a estatal que eu dei pro Centrão. E o dinheiro é das emendas parlamentares.

O esquema foi bem pensado: usaram uma forma de licitação simplificada, chamada pregão eletrônico, que acontece pela internet. Aí a Engefort concorria sozinha ou, pra dar uma disfarçada, colocava outra empresa deles, chamada Del. Não tinha erro. Era pênalti sem goleiro. Dos 99 pregões, ela ganhou 53.

Mas agora dedoduraram o negócio e vai dar um trabalhão pra fazer de conta que o meu governo não tem nada a ver comigo.

Olha, Diário, vou te contar: pra mim, dedo-duro tinha que ser cortado fora.

#diariodobolso