contraditórios

Crescimento econômico e desigualdade social na federação

Diferenças no comportamento econômico e na repartição da renda entre os estados sugerem a adoção de políticas governamentais que podem justificar resultados mais favoráveis do que outros

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No início da segunda década do século 21, o Brasil revela a existência de três dinâmicas econômicas distintas no interior do conjunto das 27 unidades da federação. O comportamento diferenciado no desempenho econômico não coincide, por sua vez, com o comportamento da desigualdade na distribuição da renda.

O bloco dos estados da federação com maior expansão econômica, cujo crescimento da renda por habitante foi superior a 3,6%, em média, nos anos de 2010 e 2013, responde apenas por ¼ do total da população brasileira e menos de 15% do valor do Produto Interno Bruto do país.

Apenas sete estados fazem parte do grupo de melhor desempenho econômico, como no caso do Amapá, Pernambuco, Paraná, Mato Grosso, Pará, Maranhão e Mato Grosso do Sul. Destes, apenas Amapá, Pernambuco, Paraná e Mato Grosso registraram queda no índice Gini da desigualdade de renda acima de -1,6% ao ano, ao contrário do Pará, Maranhão e Mato Grosso do Sul que combinaram crescimento maior da economia com baixa diminuição na desigualdade de renda.

No bloco dos estados com crescimento econômico intermediário, cuja expansão da renda por habitante variou de 2010 a 2013 como média anual entre 1,3 e 3,1%, encontra-se a parcela de 43,2% da população brasileira que representa 39,2% do Produto Interno Bruto nacional. Ao todo são 12 estados (Acre, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Santa Catarina, Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Ceará, Minas gerais e Rio Grande do Sul) com crescimento econômico intermediário no país.

Destes estados, somente sete (Acre, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Santa Catarina e Goiás) conseguiram aliar crescimento econômico intermediário com queda mais acentuada no grau de desigualdade na distribuição da renda. Isto é, queda no índice Gini de desigualdade da renda variando entre -1,7% e -2,6% ao ano, em média entre 2010 e 2013.

Os estados de Tocantins e Rio de Janeiro registram queda no grau de desigualdade da renda quase insignificante -0,3 e -0,6% como média no período de tempo considerado, respectivamente. Ceará, Minas gerais e Rio Grande do Sul permaneceram em situação intermediária entre os dois extremos de desempenho da distribuição de renda.

Por fim, no terceiro bloco de estados da federação que concentra 36,1% da população e 46,3% do total do Produto Interno Bruto constatou-se o pior desempenho econômico. Para os oito estados situados nesta condição (Sergipe, Amazonas, Roraima, Bahia, São Paulo, Rondônia e Espírito Santo), apenas quatro conseguiram apresentar crescimento positivo da renda por habitante entre os anos de 2010 e 2013 (Sergipe, Amazonas, Roraima e Espirito Santo), uma vez que Rondônia, Distrito Federal e Bahia decresceram o PIB per capita e São Paulo manteve estagnada a renda por habitante no período considerado.

Ainda para este conjunto de estados com piro desempenho econômico, identificou-se comportamento diferenciado em relação à desigualdade na distribuição de renda. Somente Sergipe registrou queda acentuada no índice de Gini no período analisado.

Na sequência, três estados (Rondônia, Distrito Federal e Espírito Santo) tiveram queda intermediária no grau de desigualdade de renda. Dos quatro estados restantes (São Paulo, Bahia, Roraima e Amazonas), destacam-se São Paulo e Amazonas que tiveram aumentos no índice de desigualdade de renda entre os anos de 2010 e 2013.

Em síntese, percebe-se que enquanto o conjunto do Brasil elevou a renda per capita em 2,3% em média ao ano e reduziu o grau de desigualdade na repartição da renda no período de 2010 e 2013 em 1% com média anual, os estados da federação apresentaram desempenhos muito distintos entre si. Essas diferenças no comportamento econômico e na repartição da renda sugerem a adoção de políticas governamentais nos estados da federação que podem justificar resultados mais favoráveis do que outros.

Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.