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Ásia e América Latina: desencontros e encontro

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Para confirmar expectativas, Brasil precisa buscar alternativas a modelo exportador de matérias primas

Nas últimas três décadas, os asiáticos diferenciaram-se da América Latina em duas oportunidades históricas, o que ajuda a explicar o crescimento da distância que separa as duas regiões. Agora, em inédita aproximação da América Latina com a Ásia, abre-se condição para o salto latino-americano. Mas nem tudo são rosas neste novo caminho.

Nos anos de 1970, os Estados Unidos começaram a fraquejar enquanto centro dinâmico mundial pelo (i) abandono da conversibilidade do dólar ao ouro, em 1973, (ii) derrota na guerra do Vietnam, em 1975, e (iii) insegurança energética (petróleo) imposta pela revolução iraniana e invasão do Afeganistão pela antiga União Soviética, em 1979. A recuperação da hegemonia estadunidense desde 1980 estabeleceu novo reenquadramento do mundo com a derrota das experiências de socialismo real (URSS) e a inserção das economias à globalização financeira.

De maneira geral, dois momentos históricos terminaram por definir posicionamentos distintos entre a América Latina e a Ásia e, por consequência, desempenhos econômicos radicalmente diferentes. Enquanto a Ásia tornou-se a principal fronteira de expansão capitalista no mundo neste início do século21, a América Latina ficou para trás.

No início dos anos de 1980 frente à crise da dívida externa imposta pelo ajuste neoliberal nos EUA, o Brasil, por exemplo, estatizou o endividamento privado e manteve separados os devedores em moedas externas dos exportadores geradores de excedente em dólares.

Diante disso, a política de ajuste econômico entre 1981 e 1983 no último governo militar (João Figueiredo) se mostrou capaz de produzir saldo exportador necessário para pagar o serviço da dívida externa por mais de duas décadas, embora tenha comprometido a possibilidade do País voltar a crescer de forma sustentada, mantendo estagnada a renda por habitante ao longo do tempo.

Diferentemente do Brasil, a Coreia do Sul provocou o casamento entre devedores e exportadores e não estatizou a dívida externa privada, possibilitando que o ajuste econômico levasse ao crescimento da renda per capita desse então.

Nos anos de 1990 ocorreu um segundo momento histórico de decisões distintas. O ingresso do Brasil na globalização financeira se deu através da prática constante de altas taxas de juros, sobretudo desde a implantação do Plano Real, o que atraiu fundamentalmente capitais de natureza especulativa e manteve artificialmente valorizado o real. O resultado foi o aumento das importações com substituição crescente da produção nacional e a desindustrialização do País.

No caso China, a entrada na globalização financeira ocorreu pela fundamental forma dos investimentos externos, o que permitiu expandir significativamente o comércio exterior. Dessa forma, os chineses não registraram valorização de sua moeda e nem tampouco conviveram com altas taxas de juros alimentadoras da financeirização improdutiva da economia.

O encontro do Brasil com a China desde várias iniciativas dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e ampliada com o recente pacote de importantes financiamentos concretiza a possibilidade de diminuir a distância que separa a América Latina da Ásia.

Mas isso requer do Brasil, sobretudo, a existência de plano estratégico do que fazer com essa aproximação, pois do contrário, a oportunidade estabelecida pode consolidar a trajetória já constatada de altas taxas de juros e moeda nacional valorizada que resulta da insatisfatória combinação entre mais exportações de recursos naturais e de importações de manufaturados. O subdesenvolvimento, nesse sentido, ganha ainda mais impulso.

*Professor do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.