A Vale, Brumadinho e as barragens: faltam respostas
Se a empresa sabia que esse método de armazenamento é mais frágil e perigoso, por que insistiu em usá-lo? Esse investimento não foi feito antes para garantir mais lucros?
Publicado 01/02/2019 - 14h08
Quem, mesmo sabendo dos riscos após a tragédia de Mariana, decidiu continuar com as barragens a montante?
“Depois que esse desastre aconteceu, não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de eliminar, acabar com todas a barragens a montante”. Foi assim que o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou que a empresa só após duas tragédias vai acabar com o modelo mais barato de armazenamento de rejeitos que mantém em 10 unidades espalhadas pelo país.
Na entrevista, ele anunciou que a empresa vai investir R$ 5 bilhões para encerrar as atividades nas barragens a montante. Segundo ele, a Vale tinha 19 barragens construídas por esse método, e continuava usando dez delas, entre elas a barragem da mina do Córrego do Feijão.
O que assusta é por que só agora, após centenas de mortes, centenas de desabrigados e danos ambientais incomensuráveis à fauna a flora a Vale decide acabar com esse tipo de barragem?
Se a empresa sabia que esse método de armazenamento é mais frágil e perigoso, por que insistiu em usá-lo? Esse investimento não foi feito antes para garantir mais lucros para a empresa e os seus acionistas? Já se sabia que se a Vale deixasse de usar esse método iria reduzir a produção em 40 milhões de toneladas de minério de ferro?
Quem foi o responsável por optar por usar esse tipo de barragem, que os especialistas consideram o mais simples e menos seguro? Quem, mesmo sabendo dos riscos após a tragédia de Mariana, decidiu continuar com as barragens a montante?
Será que apenas os engenheiros de empresas terceirizadas que foram presos até agora são os culpados pela tragédia de Brumadinho? Será que quem deu ordem, quem autorizou a barragem, não sabia dos riscos para os trabalhadores e trabalhadoras e para a população do entorno?
Se a Vale sabia, conforme consta do seu plano de emergência da barragem de 2018, dos riscos de destruição do refeitório e da aérea administrativa, onde morreram a maioria das pessoas, por que manteve a barragem em funcionamento?
O que se espera da Vale e das autoridades que estão acompanhando o caso é resposta para essas e outras perguntas para fazer com que a dor de centenas de famílias de Brumadinho e Mariana não volte tenha sido em vão.
* Luiz Marinho é presidente do diretório estadual do PT-SP