Mauro Santayana

Governo acerta nas ‘pedaladas’ mas paga mico na comunicação

Não adianta, institucionalmente, parar de “pedalar”, para tentar acalmar a direita, quando, na comunicação, se continua caindo da bicicleta – e quebrando a cara – a todo instante

Do Blog – O pagamento das famosas “pedaladas”, pelo governo, no penúltimo dia do ano, causou desconfiança e ironia por parte da fascistada nos comentários das redes sociais e dos portais de sempre. Em vez de entender que o governo retirou dinheiro de reservas do tesouro economizadas depois do governo FHC, a turma que ladra de ouvido ficou com a impressão – e está disseminando isso – que o governo teria emitido dívida nova para pagar a si mesmo, ou melhor, ao patrimônio público – considerando-se que é o maior acionista do Banco do Brasil, do BNDES e da Caixa Econômica Federal.

Enquanto essa confusão tende a persistir – e a continuar sendo usada como mote pelos seus adversários – o governo insiste em seguir mostrando que é absolutamente incapaz de contar o 2 + 2 = 4 da história econômica nacional nos últimos 13 anos. Principalmente aquela parte que se refere ao pagamento dos US$ 40 bilhões que se herdou da dívida de FHC com o FMI e a outra, que mostra que depois se economizaram – e continuam guardados – mais US$ 370 bilhões, aproximadamente R$ 1,4 trilhão em reservas internacionais.

Considerando-se esses números o dinheiro economizado desde 2002 – e isso o governo também não diz – daria para pagar uma dúzia de vezes o tão alardeado déficit de R$ 120 bilhões de 2016, sem emitir um centavo de dívida.

Não adianta, institucionalmente, parar de “pedalar”, para tentar acalmar a direita, quando, na comunicação, se continua caindo da bicicleta – e quebrando a cara – a todo instante.

A oposição e os salvadores da pátria

veja.jpgA capa da Veja, com a cara fechada do juiz Moro, com o título “Ele salvou o ano” lembra aquela com o rosto de Fernando Collor, com o título de “O caçador de Marajás”

As divulgações de “acusações” de delatores “premiados” contra os senadores Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Fernando Collor e Aécio Neves vêm corroborar o que afirmamos recentemente em O impeachment, a antipolítica e a judicialização do Estado.

A criminalização da política, na tentativa e na pressa de retirar o PT do Palácio do Planalto por outros meios que não os eleitorais, iria descambar para a condenação, paulatina, geral e irrestrita, da atividade como um todo.

Esse é um processo que parece estar focado, além de, principalmente, no PT, também nos partidos ou candidatos que possam fazer sombra, no campo adversário ao do governo, ao projeto messiânico de um “novo Brasil” que está sendo engendrado à sombra da ambição e do deslumbramento das forças surgidas da “guerra contra a corrupção” e da Operação Lava Jato.

A entrevista da semana passada, com o procurador Deltan Dalagnoll, na primeira página do Correio Braziliense e a capa da retrospectiva de Veja, com a cara fechada do juiz Sérgio Moro, com o título de “Ele salvou o ano” (a segunda, se não nos enganamos) que – será por mera coincidência? – lembra a capa da mesma revista com o rosto de Fernando Collor, com o título de “O caçador de Marajás”, publicada muito antes de ele anunciar-se candidato a presidente da República, são emblemáticas do que pode vir a ocorrer – do ponto de vista midiático – nos próximos três anos.

Só os cegos, os surdos, ou os ingênuos não estão entendendo para que lado começa a soprar, quase como brisa, o vento, ou melhor, para tocar que tipo de música está começando a se preparar a banda.

The Economist e o umbigo inglês

Como faz com qualquer país que não reze segundo a cartilha neoliberal anglo-saxã, do tipo “faça o que eu digo, não o que eu faço”, The Economist alerta que o Brasil enfrenta um “desastre político e econômico”, cita o rebaixamento do país pela Fitch e pela Standard & Poors – mas não diz que essas agências foram incapazes de prever a crise que se abateu sobre os EUA e a Europa, Inglaterra incluída, em 2008, a ponto de terem sido multadas por incompetência e por enganar investidores. E conclui criticando o déficit previsto para nosso país em 2014, sem citar – aliás, como faz a imprensa conservadora tupiniquim –  as reservas internacionais brasileiras, de 370 bilhões de dólares, o equivalente a 1 trilhão, 480 bilhões de reais.

A imprensa britânica sempre se especializou em “ditar” – a palavra ideal seria outra – regras para países que considera subdesenvolvidos ou “emergentes”.

O seu “foco” no Brasil como alvo aumentou muito, no entanto, depois do episódio em que ultrapassamos, momentaneamente, a Grã Bretanha como sexta maior economia do mundo em 2011.

Vide, por exemplo, o caso do Financial Times, recentemente vendido – sob risco de quebra – para capitais japoneses no dia em que publicou um editorial contra o Brasil.

Mas, na hora de falar sobre o Brasil, os jornalistas ingleses agem como se vivessem em outro planeta ou a Inglaterra, economicamente, estivesse acima do bem e do mal.

Em vez de conversar fiado, os redatores da The Economist deveriam olhar para o seu próprio umbigo inglês.

Gráficos

Se a questão é de deterioração dos fundamentos macro-econômicos, a dívida pública bruta do Reino Unido -The Economist cita a dívida pública bruta brasileira, mas esquece, convenientemente, a líquida, que é de aproximadamente 35% do PIB – é tão bem administrada que mais que dobrou, de menos de 40% em 2002 para quase 90% do PIB em 2014.

Enquanto a brasileira diminuiu no mesmo período, de quase 80% do PIB, para menos de 70% em 2014, como se pode ver pelo gráfico do Banco Central.

Quanto às reservas internacionais – uma das principais referências macro-econômicas para se verificar a solidez de uma economia – o Reino Unido também não fica bem na foto, na comparação com o Brasil.

Com uma economia praticamente empatada, em tamanho, com a nossa (nominalmente) as reservas de sua Majestade são de 154 bilhões de dólares, menos da metade das reservas, em dólares, do país a que os seus editores resolveram dedicar a sua primeira – e negativa – capa de 2016.