Oslo: um problema para todo mundo.

Afinal, o que aconteceu em Oslo? Um maluco saiu atirando num bando de jovens? Sim. Um islamofobo saiu atirando contra o multiculturalismo? Sim. Um xenófobo saiu atirando contra a juventude […]

Afinal, o que aconteceu em Oslo?

Um maluco saiu atirando num bando de jovens? Sim.

Um islamofobo saiu atirando contra o multiculturalismo? Sim.

Um xenófobo saiu atirando contra a juventude de um partido que ele acusava de ser tolerante com a diferença? Sim.

E aí começamos a nos aproximar de uma outra dimensão do acontecimento.

Esta é uma dimensão que a própria esquerda tem dificuldade de reconhecer. Devido a problemas da própria identidade.

Em Oslo, na ilha de Utoya, aconteceu um atentado contra a esquerda.

Behring Breivik, por mais intolerante que seja, não saiu atirando contra mulheres islâmicas, contra burkas ao acaso, contra turcos pela cidade, etc..

Não. Depois de visar o governo norueguês, ele foi apagar o que seria a nova “elite” de um partido de esquerda na Noruega.

O objetivo de Breivik era apagart o futuro desse partido: a juventude.

Mas isso a própria esquerda tem dificuldade de reconhecer. Por sua própria crise de identidade. Sei que a maioria de meus amigos e correligionários de esquerda não reconheceriam no Partido Trabalhista da Noruega um “partido de esquerda”. Mas a direita não tem dificuldade em reconhecer isto.

Claro: nem toda a direita está ao lado de Breivik. Mas sua retórica está.

A esquerda prefere discutir, às vezes, como se estivesse numa Kombi, quem é de esquerda: só os que sentam no banco da frente. Já no segundo banco, são traidores. No outro carro, ao lado, nem pensar. São bananas.

Enquanto isso perdurar, os Breivik terão seu “trabalho” facilitado pela relativa “invisibilidade” de seus alvos. Como ocorreu neste caso em Oslo: hoje em dia há torrentes de palavras sobre a islamofobia, desde os que pensam ser horrível a atitude do assassino até os que, desaprovando-a, declaram ou insinuam que a verdadeira raiz do problema está na quantidade de islâmicos que “invadem” continuamente a Europa e o Ocidente como um todo.

Quase ninguém fala da esquerda, que foi o alvo real e concreto do atentado. Porque é como se ela não existisse, ou, pelo menos, não se assumisse como conjunto, só ainda como vanguarda (aquele sentimento do banco da frente da Kombi).

É preciso sair desse gueto da história. Parte da direita apregoa que essas divisões não existem mais. O discurso da exclusividade esquerdista de uns poucos vanguardistas favorece essas posições.