Furto de obras de arte na Holanda expõe fragilidade de museus e da Europa

Detalhe de “A Ponte de Waterloo”, de Claude Monet, roubada de museu em Roterdã. Auto-estima do continente cada vez em baixa (reprodução) Foi um furto definido pela própria polícia como […]

Detalhe de “A Ponte de Waterloo”, de Claude Monet, roubada de museu em Roterdã. Auto-estima do continente cada vez em baixa (reprodução)

Foi um furto definido pela própria polícia como “espetacular” e “muito ousado”. Sete telas foram roubadas do museu Kunsthal, de Roterdã, na Holanda. Foram obras de Picasso, Gauguin, Matisse, Lucian Freud, Meyer de Haan e Monet (esse último com dois quadros). Avaliações extra-oficiais falam num valor de 100 milhões de euros.

O furto aconteceu no começo desta semana, entre 3 e 4 horas da manhã. A polícia está ainda perplexa: não sabia (até esta quinta) como os ladrões entraram no museu, nem (óbvio) como saíram. Sabe apenas que a ação foi cuidadosamente planejada, provavelmente durante meses.

O roubo ocorreu apesar do museu não ter coleção permanente, exibindo apenas mostras temporárias. A atual – agora fechada ao público – é da coleção Triton, da família Cordia, com 150 telas no total, chamada de “Vanguardas”. Fora inaugurada na semana anterior. Especialistas em museus chamaram a atenção para a consideração de que a galeria era uma jóia arquitetônica – mas um pesadelo para a segurança.

Seguindo uma tendência atual, a galeria tinha amplos espaços envidraçados, plenamente visíveis do exterior. Dessa forma, ressaltaram, os ladrões nem precisariam entrar no museu para planejar sua ação – a não ser pouco antes dela, para localizar as telas desejadas.

Ninguém sabe ainda o motivo por detrás do furto. Vender as telas é impossível, ressaltaram os mesmos especialistas. Ninguém as compraria. Restam duas alternativas, uma pior do que a outra. A menos ruim seria a de que os ladrões pretendem cobrar um resgate para devolver as telas. A pior seria a que tenha sido uma encomenda, por algum colecionador que as queira ter em segredo. Nessa hipótese é possível que as telas não venham a ser nunca encontradas, ou pelo menos até a morte do colecionador, e o seu futuro dependerá dos herdeiros.

Também não se sabe como os ladrões esconderão as telas. Rotterdam tem um dos portos mais movimentados do mundo, e essa pode ser uma rota de fuga confortável, no caso de qualquer das hipóteses anteriores para o motivo do furto.

De todo modo, essa vem a ser mais uma pedra no sapato da autoestima europeia, já combalida pela crise do euro, por surtos de extrema-direita em vários países, por surtos epidêmicos como o recente de gastroenterite em escolas alemãs, e dilacerada pelas tensões que cercam o debate sobre o futuro do continente, apesar do Prêmio Nobel da Paz ter sido dado à UE.