A maior feira comercial de livros do mundo

China é grande homenageada da edição deste ano da feira de Frankfurt (Foto: Peter Hirth/Divulgação) A cidade alemã de Frankfurt-am-Main é a capital financeira da Europa. Lá tem sede o […]

China é grande homenageada da edição deste ano da feira de Frankfurt (Foto: Peter Hirth/Divulgação)

A cidade alemã de Frankfurt-am-Main é a capital financeira da Europa. Lá tem sede o Banco Central Europeu. Mas durante cinco dias do ano, em meados de outubro, ela passa a ser também a capital financeira dos livros, quando se realiza a sua feira anual.

A Feira de Frankfurt é também a mais antiga do mundo, no gênero. Foi fundada no século XV, logo depois da invenção da imprensa por Gutemberg. Até o século XVII era a maior feira de livros da Europa, quando perdeu a posição para a cidade de Leipzig, também na Alemanha, que o conservou até a Segunda Guerra Mundial. Depois da Segunda Guerra, a Feira de Frankfurt se reorganizou em 1949. Sua primeira edição nesta nova fase foi realizada numa igreja, a de São Paulo, onde até hoje são dados os prêmios que a feira concede. Mas sua realização, organizada por uma subsidiária da Associação Alemã de Editores e Livreiros, hoje ocupa uma área enorme, de mais de 170 mil m2. Em matéria de exibição e lançamentos, os números são impressionantes. Mais de 7 mil expositores, de 70 ou mais países, comparecem a ela. A Alemanha,é claro, concentra o maior número de expositores: 3.337 em 2008. Mais de 400 mil publicações devem ser expostas, pelo menos um terço delas novos lançamentos.

Mas em termos de total de visitantes os números não são tão espetaculares. É verdade que a Feira atrai quase 200 mil “trade visitors”, isto é, visitantes que vêm fazer negócios em torno dos livros: editores, livreiros, agentes literários, tradutores etc. Do público em geral, espera-se um número entre 130 e 150 mil visitantes. Para se ter uma ideia comparativa, a Bienal do Livro do Rio de Janeiro atraiu em 2009 650 mil visitantes; a de S. Paulo, em 2006, 800 mil. E a Feira do Livro de Porto Alegre, a maior ao ar livre do Brasil, atrai anualmente o que se estima em um milhão de visitas.

Aqueles números se devem à natureza e a organização da Feira. Em outubro de 2009 ela se realiza entre 13 e 18. Os primeiros três dias são reservados aos “trade visitors”, jornalistas (10 mil de 65 países, pelo menos), e aos especialistas. Somente o sábado e o domingo são abertos ao público em geral. E os preços são salgados: para o cidadão comum a entrada de um dia custa € 14; pelo fim de semana, € 20 (algo como R$ 40 e R$ 55).

A Feira sempre contempla uma homenagem especial. A homenageada deste ano foi a China, o que levantou contrvérsias, com alegações de que os escritores são submetidos à censura no país. Mas o foco na China certamente levou em conta, como em outras áreas, a expansão do mercado chinês, que publica 150 mil títulos por ano. Uma nova geração de “milinários do livro” da China vai ocupar os corredores da feira, com certeza, pois na nova economia de ordem comunista e espírito capitalista daquele país, escrever e publicar pode ser um bom negócio. Em 2010 a homenageada será a Argentina; o Brasil foi em 1994, e em 1976, primeira edição com homenagem, foi a vez da América Latina como um todo. 

A primeira ministra alemã, Ângela Merkel, abriu o evento. E na semana anterior lançou no ar, através de seu podcast, um assunto polêmico. Manifestou preocupação com a proteção do copyright diante da internet. Especificamente, citou o plano da Google de colocar no ar uma biblioteca virtual com muito mais do que os 10 milhões de livros que ela já tem digitalizados.

Os defensores da ideia dizem que isso possibilitaria o acesso a milhões de livros que estão esgotados ou não têm maior atrativo comercial. Além disso a Google estaria disposta a pagar US$ 125 milhões a Bibliotecas e instituições congêneres pela digitalização de seus livros. E colocaria o portal à disposição de autores e editoras que quisessem ali colocar seus livros e cobrar pelo acesso.

Duas coisas se podem comentar: a preocupação de Angela Merkel faz parte de um quadro crescente de preocupação tanto com a pirataria (no bom e no mau sentido, veja os progressos do Partido Pirata na Europa e no mundo) e com a perda de controle por parte de empresas sobre seus produtos, como na área da saúde. E que, mesmo com todas as atribulações do momento, o mercado do livro está longe de ser um espaço crepuscular.