A economia europeia e o cavalo chinês

Notas de 100 Yuan com a imagem de Mao Tsé-Tung (Foto: Nick Loh/Reuters)  Novamente, os gregos estão às voltas com um cavalo. Mas não é mais o de Troia. Ao […]

Notas de 100 Yuan com a imagem de Mao Tsé-Tung (Foto: Nick Loh/Reuters)

 Novamente, os gregos estão às voltas com um cavalo. Mas não é mais o de Troia. Ao contrário, agora foi pela Grécia que um “cavalo chinês” adentrou os muros da União Europeia. Botou o pé na porta, os cotovelos na mesa e já quer sentar na janelinha do ônibus.

Para a Grécia, é como se um paciente terminal recebesse uma dose inesperada de oxigênio ou outra substância salvadora: no caso, alguns bilhões de euros em investimentos e negócios.

Em duas visitas realizadas por altos funcionários e o próprio vice-primeiro ministro da China, Zhang Dejiang em um mês, a China e a Grécia de George Papandreou fecharam acordos nas áreas de navegação, indústria naval e telecomunicações, além de abrirem horizontes para outras iniciativas de peso.

Aos poucos, os detalhes vêm vindo à tona. Zhang Dejiang chegou a Atenas da semana passada acompanhado por 30 grandes empresários chineses. Ao todo, 14 grandes acordos de investimento foram fechados, cujo valor total ainda não ficou claro.

A Cosco, a grande companhia chinesa de navegação, que já havia assumido o controle do porto de Pireu no ano passado, numa concessão de 35 anos, no valor de 1 bilhão de dólares (RS$ 1,8 bilhões, aprox.), vai construir no mesmo porto uma linha de produção de contêiners. Além disso, a BCGI, empresa de construção, vai por de pé um shopping e um hotel no Pireu no valor de 100 milhões de euros (aprox. RS$ 220 milhões).

A China Huwei Technologies e a Telecom grega fizeram acordos de transferência bilateral de tecnologia, e foram celebrados 4 acordos na área de alimentos, inclusive de importação de azeite de oliva grego pelos chineses.

Abriram-se negociações para acordos de investimentos nas ferrovias gregas, para um aeroporto na ilha de Creta, centros de logística industrial e de serviços em Atenas, em turismo também, envolvendo infraestrutura e a construção de um parque temático marinho.

Em resumo, uma bênção vinda não exatamente do céu, mas do oriente, para quem estava na UTI e com gente pondo o pé no tubo de oxigênio, com as sucessivas “degradações” das notas de investimento no sistema financeiro internacional.

Analistas da macrorregião, como os do Conselho Europeu para Relações Internacionais, com sede em Londres, estão de cabelos em pé e pondo as barbas de molho com essa “invasão” chinesa, que, depois da aterrissagem do FMI na Zona do Euro é o segundo passo para a definitiva “internacionalização” da atual crise europeia. Esses analistas não gostam nem dos métodos, nem da força – ou robustez, para usar um termo da moda – dos chineses.

Estes dão a entender que a “tomada” da combalida Grécia é apenas uma cabeça de ponte para a “invasão” da região balcânica e do antigo leste europeu, regiões que a UE vem disputando palmo a palmo com a OTAN norte-americana e também com os russos.

Além das questões econômicas e estratégicas envolvidas, essa temida “invasão oriental” é mais uma flechada na autoestima regional, ferida por ver-se agora paciente dos amargos remédios que seus próceres tanto receitaram… para os outros.

E ferida também pelo fato de que, pela primeira vez na história, a Europa está se tornando o espaço de um “negócio da China” – só que para a China.