Síria: o pedregoso caminho das pedras.
A defecção do general Manaf Tlass, em direção à Turquia e depois à França, mostra que o regime sírio, de Bashar al-Assad, está entrando na sua pedregosa reta final. Qual […]
Publicado 06/07/2012 - 10h53
A defecção do general Manaf Tlass, em direção à Turquia e depois à França, mostra que o regime sírio, de Bashar al-Assad, está entrando na sua pedregosa reta final.
Qual será o ponto de chegada, e quanto sangue e vidas isso vai custar, ainda não se sabe. Mas quando generais começam a desertar (e segundo os informes, foram 23 outros oficiais a seguir o caminho de Tlass), isso é sinal de que o fim surgiu no horizonte. A tragédia pode durar meses, como ocorreu com o regime de Gaddhafi na Líbia; mas ela vai ocorrer.
Uma das razões pelas quais o regime ainda não caiu, é o desarrazoado das oposições a ele. Apesar de muito dos noticiários se referir a elas no singular (“a oposição”), a unidade nesse grupo é um vácuo. Reunidas recentemente no Cairo, tiraram poucas conclusões conjuntas, e mostraram uma patética falta de terreno comum de base. O vídeo do final da reunião, exibido na página do The Guardian, é eloquente: todo mundo fala, ninguém escuta nem se entende.
Também pudera: é um grupo que reúne desde movimentos apoiados pela Al-Qaida até outros financiados pelos Sauditas, passando por todas as cores e configurações imagináveis.
No plano internacional, cresce o isolamento da Rússia na matéria. Esta teme o redesenho do mapa político da região, em favor dos Sauditas, das potências ocidentais e em detrimento de seu aliado, o Irã, que também vem apoiando o regime de Assad. Sem falar que teme também, se este for o caso, um reforço clandestino à Al-Qaida e aos Talebãs, que a incomodam nas suas fronteiras.
A China, por seu lado, nada faz. Também se opõe a uma intervenção da ONU além dos esforços de Koffi Annan, por temer que ela seja na verdade, a abertura de uma porta para as potências ocidentais, como ocorreu no caso da Líbia. Mas pouco ou nada faz – pelo menos visivelmente – para encontrar uma alternativa.
As lições são muitas.
É preciso pensar sobre como os movimentos nacionalistas, vagamente inspirados por um socialismo diluído, como os do Partido Baath (de Bashar al-Assad e Saddam Hussein, entre outros), desembocaram nesses arremedos de regimes populares, como os dos já mencionados líderes, mais o de Gaddhaffi, na Líbia, de outra procedência mas de destino semelhante: construção de dinastias familiares e autocráticas, auto-devoradoras de suas bases.
Cabe refletir também sobre a Rússia, que deixou de ser uma alternativa ideológica, para tornar-se um parceiro, mesmo que dissidente, nesse tabuleiro geopolítico.
O silêncio comedido e medido da China também merece reflexão.
Por fim, a sanha das potências do Ocidente, interessadas em recuperar a influência que tinham quando punham e depunham regimes na região pode levar tudo a uma grande catástrofe, favorecendo, como sempre, as reações fundamentalistas e desarmando, na verdade, o jogo político democrático que poderia nascer dessas crises.