Mobilidade

Depois de errar com Passe Livre, Haddad prioriza transporte público

Apesar de ter falhado ao lidar com protestos contra o aumento da tarifa, prefeito de São Paulo tem tomado decisões positivas em relação ao trânsito

Rivaldo Gomes/Folhapress

Haddad também tem se esforçado para cumprir a meta de pelo menos 150 quilômetros de faixas exclusivas para ônibu

A postura reticente do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em relação às primeiras manifestações do Movimento Passe Livre atraíram críticas daqueles que esperavam dele uma postura mais alinhada à esquerda. Apesar de o aumento ter sido revogado, sua imagem ficou arranhada pela condução desastrada do processo de negociação.

Se nesse episódio a conduta política de Haddad ficou em dúvida, em outras áreas do mandato relacionadas ao espaço urbano o saldo é, até agora, positivo. Uma das decisões mais emblemáticas desses seis meses de mandato foi anunciada nesta semana: a suspensão da construção do túnel que ligaria a Avenida Jornalista Roberto Marinho à Rodovia dos Imigrantes, que estava orçada em R$ 2,4 bilhões. Melhor: essa decisão foi tomada depois de um pedido dos moradores da região. Isso demonstra abertura para ouvir a sociedade civil em decisões importantes.

O trajeto do túnel beneficiaria quase que exclusivamente carros particulares e não teria qualquer impacto na melhoria do transporte coletivo na cidade. A decisão também terá impacto positivo para os moradores das favelas da região: cerca de 40 mil pessoas seriam removidas para a construção do túnel. Outras obras da operação urbana na qual o túnel se inseria estão mantidas, como a duplicação da Avenida Chucri Zaidan, a implementação de um parque linear e a construção de habitação social na região.

Haddad também tem se esforçado para cumprir a meta de pelo menos 150 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus. As marginais já ganharam as suas, enquanto a da Avenida Paulista deverá começar a funcionar em breve. Aliás, o prefeito afirmou textualmente que os donos de carros podem esperar uma piora nas condições do tráfego. “Para o carro, vai piorar e para o ônibus, vai melhorar. O pessoal vai pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem.”

É claro que, para que isso aconteça, a qualidade do serviço prestado pelos ônibus tem de aumentar, para que os motoristas tenham a opção de deixar o carro na garagem sem grandes transtornos. As faixas exclusivas e, mais adiante, a construção de novos corredores de ônibus, devem contribuir para que esse objetivo seja alcançado.

A questão do transporte coletivo também passa pela discussão de seu financiamento. Essa é talvez a pauta mais importante levantada pelo Movimento Passe Livre nas passeatas de junho. Expor a margem de lucro dos empresários, além dos subterfúgios usados para aumentar o faturamento, é essencial para o avanço na discussão sobre o preço das passagens.

Se Haddad realmente quer priorizar o desenvolvimento do transporte coletivo em São Paulo, esse é o único caminho a seguir. Para isso, a CPI dos Transportes, instalada nesta semana na Câmara dos Vereadores, é um instrumento importante.

Entretanto, a CPI deve ser fiscalizada de perto pela população, afinal há suspeitas – nunca provadas, é verdade – de que candidatos de todos os matizes ideológicos recebem doações dessas empresas para suas campanhas eleitorais. Se isso for verdade, uma CPI sem fiscalização popular será inócua.

De toda forma, até agora as decisões de mobilidade da gestão municipal em São Paulo parecem seguir a direção certa, que é a priorização do transporte coletivo. A unanimidade criada sobre esse assunto em decorrência das manifestações deve ser aproveitada antes que o lobby do transporte individual consiga reagir.