Pesquisadora acredita que sojicultores brasileiros ‘fogem’ de transgênicos

Custos e produtividade menor do que a esperada seriam os motivos. Monsanto afirma que 88% dos agricultores empregam tecnologia geneticamente modificada

Agronegócio tem se preocupado com “totalitarismo” das empresas de biotecnologia (Foto: Roosevelt Pinheiro/ABr)

São Paulo – Embora alguns produtores hesitem em falar abertamente, um dos motivos – mundiais – para a fuga de sementes transgênicas são as exigências de empresas de biotecnologia. O mercado foi se concentrando e hoje há seis empresas capazes de ditar as regras, cobrando mais pela propriedade intelectual de seus produtos.

Larissa Packer, advogada da Terra de Direitos, avalia que o agronegócio tem se mostrado preocupado com o que seria um “totalitarismo” das empresas de biotecnologia. “Há um conflito gravíssimo. Os interesses nacionais se encontram em um problema de soberania. Já não temos indústrias nacionais produtoras de sementes convencionais e os agricultores acabam acorrentados a um sistema de propriedade intelectual imposto pelas empresas.”

Atualmente, a cada quatro novas variedades de milho incluídas no Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, três são modificadas geneticamente. No atual ritmo de expansão da soja, dentro de algum tempo haveria uma produção muito pequena das variedades tradicionais.

O lançamento, no início de novembro, do programa Soja Livre pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pode indicar uma tendência de alguns produtores a rejeitar a continuidade deste tipo de agricultura, preferindo retornar aos métodos tradicionais. “O limite tecnológico vai levar a biotecnologia a uma contradição crucial. A não ser que os agricultores estejam judicialmente inviabilizados de fazer uso próprio de sementes convencionais”, avalia Packer.

Segundo críticos do cultivo de transgênicos, muitas variedades genéticas não cumpriram a promessa de melhor produtividade e menor uso de agrotóxico. Pelo contrário, à medida em que cresce o cultivo de transgênicos no Brasil, aumenta fortemente o uso de defensivos agrícolas. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), o Brasil passou a comandar o mercado em 2008, quando utilizou 733,9 milhões de toneladas de agrotóxicos. É o líder mundial na utilização desses produtos.

A produtividade, em muitos momentos, também mostrou-se ruim, em especial em situações de exceção, como estresse hídrico ou temperaturas diferentes das médias de cada ciclo agrícola.
Recentemente, têm crescido as evidências de que o Roundup Ready, variedade transgênica mais utilizada, está com sérios problemas. A própria Monsanto, responsável pelo produto e líder do mercado mundial de transgenia, chegou a admitir que seu carro-chefe deixou de ser tão eficaz, na medida em que algumas ervas-daninhas desenvolveram mutações capazes de resistir ao produto.

Monsanto

O surgimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato é atribuído à utilização de uma única estratégia de manejo da área, sem se recorrer a rotação e a outras técnicas agrícolas.

Segundo a Monsanto, por meio de nota à Rede Brasil Atual, “o glifosato tem ação comprovada sobre mais de 360 espécies de plantas daninhas no mundo”. O montante é, de acordo com a companhia, maior do que outros herbicidas.  No texto, a empresa sustenta que a tecnologia Roundup Ready “oferece benefícios ambientais e econômicos para o agricultor brasileiro”, o que explica por que a maioria dos produtores adota esse tipo de soja.

A Monsanto cita uma pesquisa realizada pelo instituto alemão Kleffmann na safra 2009/2010 no Brasil, indicando que em 88% da área plantada se utiliza, em toda ou em parte da área, a tecnologia RR. A produtividade elevada é o motivo apontado pelos pesquisados para justificar a escolha, sustenta a empresa.