Alerta da ONU

Incêndios, poluição sonora, descompasso dos ciclos de vida: a ação humana sobre o planeta

Os três tópicos devem afetar cada vez mais a saúde pública e o meio ambiente. Por isso exigem ação de governos, afirma nova edição de relatório que “previu” a pandemia

Fotos Públicas
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Esta é a quarta edição do relatório Fronteiras, publicado pela primeira vez em 2016. Naquele ano, o PNUMA havia alertado para riscos crescentes de doenças relacionadas a zoonoses. Isso, quatro anos antes da pandemia de covid-19

São Paulo – O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou nesta semana um relatório sobre ameaças ambientais iminentes. O documento da ONU alerta para ações humanas nocivas para a sustentação da vida na Terra. Reitera que mudanças climáticas já resultam em tragédias cada vez mais frequentes e, desse modo, exigem ações urgentes para reverter o cenário. A entidade destaca como perigos os incêndios florestais, a poluição sonora e o descompasso nos ciclos de vida.

“Os três tópicos da edição deste ano devem afetar, cada vez mais, a saúde pública e o meio ambiente e, por isso, merecem atenção e ação de governos e do público em geral. As questões também realçam a necessidade urgente de se enfrentar a tripla crise planetária da mudança climática, poluição e perda de biodiversidade”, afirmam os especialistas. Esta é a quarta edição do relatório Fronteiras, publicado pela primeira vez em 2016. Portanto, quatro anos antes da pandemia do novo coronavírus, o Pnuma já alertava para riscos crescentes de doenças relacionadas a zoonoses.

Ação urgente

A publicação antecede a quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que ocorre entre 22 e 23 de fevereiro. O texto é intitulado Barulho, Chamas e Descompasso: Questões emergentes de preocupação ambiental. “O Relatório Fronteiras identifica e oferece soluções para três questões ambientais que merecem a atenção e a ação de governos e do público em geral. A poluição sonora urbana, os incêndios florestais e as mudanças fenológicas – os três tópicos da edição deste ano – são questões que realçam a necessidade urgente de se enfrentar a tripla crise planetária da mudança climática, poluição e perda de biodiversidade”, afirma a diretora executiva do Pnuma Inger Andersen.

Poluição sonora

Entre os problemas destacados está o excesso de barulho a que os humanos estão submetidos na contemporaneidade. “Os sons indesejados, constantes e de alta intensidade do trânsito rodoviário, ferroviário ou de atividades de lazer prejudicam a saúde e o bem-estar humano. Isso inclui situações como a irritação crônica e distúrbios do sono, resultando em doenças cardíacas e distúrbios metabólicos graves, como diabetes, deficiência auditiva e saúde mental mais comprometida”, afirma a ONU, em nota.

A extimativa da entidade é de que o problema já contribui para mais de 12 mil mortes prematuras apenas em um ano, e apenas na União Europeia. Entre os mais afetados, estão novamente os mais vulneráveis. “As comunidades de faixas etárias muito jovens, idosos e as marginalizadas que vivem próximas a rodovias movimentadas, áreas industriais e longe de espaços verdes são especialmente afetadas”.

Além disso, a poluição sonora impacta diretamente no ecossistema ao prejudicar os ciclos de vida dos animais. “O barulho constante também é uma ameaça aos animais ao alterar a comunicação e o comportamento de várias espécies, como aves, insetos e anfíbios”.

Incêndios

A ONU estima que 423 milhões de hectares, uma área equivalente à União Europeia, foi incendiada por ano entre 2002 e 2016. Estes incêndios cada vez mais comuns influenciam na perda da biodiversidade, na mudança do regime de chuvas, secas extremas e tragédias em ocupações humanas.

“Isso se deve à mudança climática, com temperaturas mais quentes, condições mais áridas e secas mais frequentes. A mudança no uso da terra é outro fator de risco, incluindo a exploração madeireira comercial e o desmatamento para expansão de propriedades rurais, pecuária e expansão de cidades. Uma outra causa da proliferação de incêndios é a supressão agressiva do fogo natural, essencial em alguns sistemas naturais para limitar as quantidades de material combustível, e políticas inadequadas de manejo do fogo que excluem as práticas tradicionais e o conhecimento indígena”, afirma a entidade.

Fora do ritmo

As mudanças climáticas alteram também o ritmo da vida na terra; os relógios biológicos. É o que destaca o relatório. “As mudanças fenológicas ocorrem quando as espécies alteram o ritmo do ciclo de vida em resposta às alterações nas condições ambientais resultantes da mudança climática. A questão é que as espécies em interação em um ecossistema nem sempre mudam seus ciclos na mesma ordem ou no mesmo ritmo”.

Esse descompasso é percebido em mudanças como interrupção ou maior breviedade de etapas da vida das plantas. “As mudanças fenológicas nos cultivos relacionadas às variações sazonais serão um desafio para a produção de alimentos em face das mudanças climáticas. Alterações nas espécies marinhas comercialmente importantes e em suas presas têm consequências significativas para a produtividade dos estoques e da pesca”.

A PNUMA destaca que este é um campo que carece de mais estudo e atenção das nações. “Manter habitats adequados e a conectividade ecológica, fortalecer a integridade da diversidade biológica, coordenar esforços internacionais para a preservação das rotas migratórias, apoiar a resiliência e manter a variação genética das espécies são metas de conservação fundamentais. Ainda, acima de tudo, é essencial limitar a taxa de aquecimento global por meio da redução das emissões de CO2”.