Central de energia solar no Brasil não compensa, diz professor

Sem tecnologia própria, melhor para o país é apostar na instalação de pontos descentralizados em residências e edifícios como forma de desenvolver o setor

A informação de que a China terá a maior central de energia solar do mundo animou os apoiadores de fontes alternativas e renováveis, ao mesmo tempo em que levantou a questão: o Brasil poderia fazer o mesmo?

Na avaliação do professor Roberto Zilles, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), a viabilidade técnica existe, mas o projeto não vale a pena por aqui por uma série de motivos.

Em primeiro lugar, é interessante analisar os motivos que levaram a China ao projeto de construir a central a partir de 2010. A obra, orçada em no máximo US$ 880 milhões, ocupará uma área de 64 quilômetros quadrados para gerar 2 mil megawatts a partir de 2019. Para que se tenha uma ideia, Angra 3 demandará no mínimo mais US$ 4,5 bilhões (segundo a cotação desta quarta-feira) para gerar uma energia de 1.405 MW.

Mas há diferenças entre as realidades chinesa e brasileira. O professor do IEE adverte que a China investiu fortemente na tecnologia de energia fotovoltaica. Neste momento, a construção da usina chinesa pretende, além da geração de energia, aquecer um mercado abalado pelo ritmo menor de encomendas vindas de Espanha e Alemanha, as duas maiores compradoras.

No Brasil, a construção de uma grande central significaria importar 100% dos principais componentes, sem a possibilidade de desenvolver a própria tecnologia. “Como tem uma barreira econômica nesse mercado, é muito melhor começar com pequenos sistemas distribuídos buscando um grau de nacionalização e desenvolvimento de tecnologia”, afirma.

Os pequenos sistemas são bastante simples: significam o incentivo à instalação de painéis de captação de energia solar em casas, indústrias e prédios comerciais. O professor destaca que a aplicação atual da energia solar fotovoltaica no país é absolutamente marginal, com utilização principalmente em áreas em que não há rede elétrica por serem isoladas geograficamente.

Roberto Zilles ressalta que o Brasil tem em abundância o principal recurso necessário para esse tipo de energia: sol em regularidade muito maior que na maioria dos países do mundo. Ele lembra que a instalação descentralizada favorece o desenvolvimento gradativo da tecnologia nacional no setor, desde que haja investimento. “Por que fazer grandes centrais se o Sol está mais ou menos uniformemente distribuído? Não é uma vantagem fazer um investimento nisso com recurso concentrado. É mais interessante a soma de vários lugares”, afirma.