COP-15: Brasil terá mais chuva e calor nas próximas décadas

Estudo mostra que temperatura na Amazônia pode aumentar oito graus até 2100, o que geraria mudança para vegetação típica de regiões secas

O professor Eneas Lasati observa que áreas que já têm um baixo balanço hídrico, como o Nordeste e o Pantanal, ficarão mais vulneráveis às mudanças climáticas (Foto: divulgação)

O Brasil terá mais chuva e mais calor nas próximas décadas. Caso se confirmem os cenários previstos sobre o aquecimento global, a agricultura, a geração de energia elétrica e até mesmo as áreas habitáveis do país sofrerão alterações.

O estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil (leia aqui a íntegra), um levantamento multisetorial, aponta que as hidrelétricas podem perder confiabilidade no país por causa das alterações no regime de chuva e da elevação da temperatura. Basicamente, o cenário traçado é de aumento da precipitação em quase todo o país, o que por si só provocaria fortes alterações. Mas a situação fica pior quando se soma a isso o aumento da temperatura.

O balanço hídrico, na maior parte das regiões, será afetado para baixo, ou seja, a diferença entre o que chove e o que evapora será menor. Com menos água nas principais bacias brasileiras, ecossistemas podem desaparecer ou serem alterados, os cultivos para cada região terão de ser adaptados e o Brasil definitivamente precisará investir em outras fontes de energia.

Eneas Salati, professor e diretor técnico da Fundação Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNBS), conduziu o estudo sobre os recursos hídricos, que serviu de base para as demais análises. Foram tomados em conta os dados do Centro de Pesquisas Tecnológicas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC – INPE) e os relatórios do Painel da Organização das Nações Unidas (IPCC-ONU) sobre mudanças climáticas.

A conclusão é de que o Brasil pode perder, ao longo das próximas quatro décadas, um ano inteiro de Produto Interno Bruto (PIB) graças às mudanças climáticas. As projeções vão de um prejuízo de R$ 719 bilhões até R$ 3,6 trilhões até 2050. No bolso do cidadão, a perda irá variar entre R$ 534 e R$ 1.603 ao ano.

Na Amazônia, região mais sensível e uma das que serão fortemente afetadas, o aumento de temperatura pode atingir 8ºC em 2100, promovendo a chamada “savanização”, ou seja, a alteração drástica na atual vegetação, adaptada a um local seco e quente. O professor Eneas Salati lembra que, além do aquecimento global, há outro fator que aumenta a preocupação sobre a Amazônia: o desmatamento.

“Basicamente haverá uma diminuição das vazões. O Amazonas pode ter uma redução de 10 a 15% na vazão considerando os rios que o alimentam”, afirma.

Como medidas de mitigação, o estudo aponta a possibilidade – cada vez mais aceita entre governos – de pagamento pela preservação das propriedades. Nos cálculos dos especialistas, a remuneração de US$ 3 por tonelada de carbono, ou US$ 450 por hectare, seria suficiente para desestimular o desmatamento para atividade de pecuária.

Estancar o desmatamento na Amazônia é tido como prioridade. A derrubada, ao mesmo tempo em que é responsável pelo aumento do aquecimento global, gera impactos sobre os recursos hídricos do Brasil inteiro. A projeção é de que, até 2100, o desmatamento provoque redução de 38% das espécies.

O governo brasileiro, embora não admita até o momento falar em desmatamento zero, anunciou metas de redução para os próximos anos. Evitar a derrubada de árvores será o principal caminho para que o país garanta a redução das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global.

O Brasil, que vinha argumentando sobre a necessidade de se tomar decisões importantes e firmes na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, marcada para dezembro na Dinamarca, recebeu notícias importantes esta semana. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou presença em Copenhague, e a China anunciou a intenção de reduzir suas emissões de gases em até 45%. Os dois países são os maiores poluidores do mundo.

Para Eneas Salati, são motivos para esperar que a reunião, conhecida como COP-15, ganhe em relevo. “O Brasil se comprometeu a fazer redução de desmatamento e a utilizar novas fontes de energia, sendo que é um país que não teria a obrigação de fazer isso, mas está assumindo um compromisso muito importante que serve de exemplo para outros países”, afirma.