Aquecimento das águas já causa doenças em corais da costa brasileira

Natal (RN) – O aumento da temperatura da água do mar é apontado como um dos causadores do branqueamento e surgimento de doenças em espécies de corais na costa brasileira. […]

Natal (RN) – O aumento da temperatura da água do mar é apontado como um dos causadores do branqueamento e surgimento de doenças em espécies de corais na costa brasileira. Segundo o pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ruy Kikuchi, integrante de grupo de pesquisa Recifes Globais e Mudanças Globais, as primeiras colônias de corais branqueadas – perda da coloração por morte ou perda das algas – relacionadas aquecimento dos oceanos foram registradas na década de 90.

Desde então, os cientistas perceberam que os recifes de corais mais próximos da costa – menos de 5 quilômetros – são os que sofrem branqueamento mais intenso. “Eles ficam mais expostos ao que acontece na zona costeira”, afirmou na segunda-feira (26) o pesquisador, durante palestra na 62ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O branqueamento não é provocado apenas pela alteração térmica e nem significa a extinção do coral em todos os casos – depende do tempo da descoloração –, mas deixa os corais enfraquecidos. Ruy Kikuchi relatou que algumas espécies, por exemplo, retomaram a cor depois da normalização da temperatura da água.

No entanto, o surgimento de uma necrose em corais em Abrolhos, em 2005, provocado por um tipo de bactéria colocou os cientistas em alerta sobre o efeitos do aquecimento global nos recifes. Antes desse período, não havia registro de alteração nos corais da Bahia. “Estamos analisando se a bactéria (também) se prolifera com o aumento da temperatura”, disse.

O coral é um cnidário e forma colônias coloridas graças às algas pigmentadas.

Sem pesquisas

A falta de pesquisadores em ciências do mar é um dos entraves para o desenvolvimento dos estudos nessa área no país, avaliam os participantes da reunião da SBPC, em Natal.

Dados mostram que o número de pesquisadores dedicados às ciências do mar é reduzido em comparação a outros segmentos. De 1968 a 2008, 6.725 estudantes graduaram-se em cursos de ciências do mar, sendo 38,5% engenheiros de pesca e 33% oceanógrafos, de acordo com informações publicadas pela SBPC. Atualmente, o país dispõe de 38 cursos de graduação específicos para atividades no mar, porém 25 deles surgiram há menos de dez anos. Na pós-graduação, há 29 mestrados e 21 doutorados.

Para o oceanógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará, Carlos Schettini, a carreira tem poucos atrativos de trabalho – o que afasta os universitários. “É preciso tornar a carreira acadêmica interessante. Dinheiro tem, o problema é que não tem gente”, disse.

O coordenador da reunião da SBPC, Aldo Malavasi, aponta o alto custo do trabalho de campo nos mares como outro obstáculo – e cita os gastos para compra e manutenção de um barco. “Nesses trabalhos, é necessário usar meios mais complexos e caros, como barcos. O deslocamento e a pesquisa de animais marinhos são mais complicados em comparação à uma excursão terrestre, onde você tem uma rede hoteleira, por exemplo”, disse.

A comunidade científica espera um aumento no número de cursos e interessados no tema por conta da exploração do petróleo na camada pré-sal e das discussões sobre os efeitos das mudanças climáticas nos mares e oceanos.
Os pesquisadores cobram também a criação de um instituto governamental para a coleta e análise de dados a respeito do ambiente marinho.

Na abertura da reunião da SBPC, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, liberou R$ 30 milhões para a implantação de dois centros focados nas ciências do mar. Os recursos serão aplicados por meio de editais de propostas a serem lançados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).