Trajetória descendente

Alertas de desmatamento caem 33% no Cerrado, após quatro meses de alta; queda na Amazônia se mantém

Números no bioma não apresentavam melhora desde julho. Em janeiro, porém, foram registrados 295,9 km² de desmate frente a 440,5 km² em igual período do ano passado

Toninho Tavares/Agência Brasília
Toninho Tavares/Agência Brasília
Conhecido como "berço das águas", o bioma tem um papel fundamental principalmente no ciclo hidrológico do país

São Paulo – Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram 33% em janeiro deste ano em relação a igual mês do ano passado. De acordo com dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta sexta-feira (9), foram registrados 295,9 km² de desmate no mês passado, ante 440,05 km² devastados em janeiro de 2023. O resultado abre o primeiro mês, desde julho, em que os números no bioma apresentam melhora.

Em dezembro, o Cerrado chegou a ter alta de 43% na taxa de desmatamento, o maior resultado da série histórica. O bioma vem em uma trajetória constante de alta desde 2020. Apesar da diminuição do ritmo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em comparação ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2023, a área sob alerta foi de 7.828 km². Segundo o Inpe, o Maranhão foi o estado contemplado pelo bioma que teve a maior área de vegetação nativa suprimida.

Historicamente, porém, os números de desmatamento nos biomas têm queda no início do ano. Isso porque o período é marcado pela temporada de chuvas, o que dificulta a derrubada da mata. Além disso, há maior incidência de nuvens que ainda atrapalham a captura de imagens pelos satélites que alimentam o Deter. No cerrado, por exemplo, a cobertura de nuvens registrada pelo Inpe chegou a 39%. Por outro lado, o governo federal também vem aumentando os esforços parar frear o desmatamento na região.

Plano para o cerrado

Em novembro, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou o plano PPCerrado, prevendo a preservação do bioma a partir de uma gestão integrada dos recursos naturais com os governos dos estados e para brecar o avanço descontrolado da agropecuária.

Entre agosto de 2022 e julho de 2023, o Brasil perdeu 11 mil km² de áreas nativas de cerrado. E 75% desse total foi devastado na grande fronteira agrícola do país, situada entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no chamado Matopiba. Conhecido como “berço das águas”, o bioma tem um papel fundamental principalmente no ciclo hidrológico do país.

Os dados do Inpe desta sexta também confirmam a tendência de queda no desmatamento na Amazônia. Em janeiro, foram perdidos 118,8 km² de vegetação nativa, queda de 29% em relação ao registrado em igual mês do ano passado, quando o índice ficou em 166,5 km². No mês anterior, os alertas de desmatamento chegaram a cair pela metade no bioma, atingindo o melhor índice desde 2018.

Paralisação dos servidores

Os dados saem em meio à paralisação de servidores do Ibama e Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio). Os trabalhadores pressionam o governo federal por melhores condições de laborais. E cobram reajuste salarial, congelado há sete anos, e a reestruturação da carreira de especialista em meio ambiente.

No último dia 1º, um encontro entre os representantes dos servidores e os do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Público (MGI), em Brasília, terminou sem acordo. A contraproposta governamental foi considerada “aquém” das reivindicações dos servidores. Segundo levantamento da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema), entre 1º e 29 de janeiro houve redução de 69% nos autos de infração aplicados pelo Ibama. Foram 335 autos de infração, ante 1.090 um ano antes. Considerando apenas a Amazônia Legal, a queda foi de 88%.

Redação: Clara Assunção, com informações do jornal Folha de S. Paulo