Agro é fogo

Agronegócio alimenta a grilagem e o desmatamento, diz pesquisador

Para Mauricio Torres, da Universidade Federal do Pará, agronegócio pressiona políticas de regularização fundiária para anistiar as terras roubadas que compra

Op. Verde Brasil
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Com baixíssima produção de alimentos, agronegócio está por trás da violência no campo e da devastação da Amazônia, Pantanal e Cerrado

São Paulo – “O desmatamento, a grilagem e os conflitos agrários só existem porque tem o agronegócio para comprar essas terras. Então cada vez mais o agronegócio faz pressões para que essas terras roubadas e desmatadas sejam anistiadas, documentadas.” A afirmação foi feita pelo professor Mauricio Torres, do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf) da Universidade Federal do Pará (UFPA), durante o lançamento do dossiê O Agro é Fogo na noite desta quarta-feira (15). O professor é coautor do capítulo A boiada está passando: desmatar para grilar, que compõe o dossiê lançado pela plataforma de mesmo nome elaborado por 30 organizações, movimentos sociais e pastorais do campo que atuam em defesa dos povos e dos territórios da Amazônia, do Pantanal e do Cerrado.

Agronegócio e grilagem

O capítulo mostra o desmatamento como instrumento de grilagem que acompanha a expansão do agronegócio e a dependência da terra desse setor com baixíssima produção de alimentos, voltado à exportação de grãos para ração e outros usos industriais. E demonstra como a reforma agrária é questão ecológica e de direitos. “Cada vez mais se tenta dar uma visão romantizada e amena para o que é um crime ambiental e social: a grilagem, expropriação e desmatamento”, disse, referindo-se à campanha O Agro é Pop, que há anos domina os intervalos da novela apresentada em horário nobre.

O dossiê traz ainda capítulos que discutem em profundidade o lucro do agronegócio enquanto o governo de Jair Bolsonaro faz a “boiada passar”, as ligações perigosas entre fundos de pensão internacionais e os incêndios e grilagens no Matopiba. As conexões entre trabalho escravo e degradação ambiental e os usos tradicionais do fogo no Cerrado e Amazônia também têm capítulos à parte.

Redação: Cida de Oliveira