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Greenpeace alerta para consequências graves das mudanças climáticas no Brasil

Trabalho revisou 46 estudos sobre os impactos do aumento da temperatura, desmatamento e mudança no ciclo de chuvas

Carlos Nogueira/A Tribuna de Santos/Folhapress

Catástrofes ambientais, aumento na migração, redução na produção de alimentos e na geração de energia são esperados

São Paulo – Relatório produzido pelo Greenpeace indica que, até o ano de 2100, a população brasileira deve sofrer com problemas de habitação e locomoção em caso de desastres naturais, queda na geração de renda, comprometimento da produção e aumento do preço dos alimentos que vão impactar principalmente sobre os economicamente mais vulneráveis. O documento foi elaborado com base na revisão de 46 estudos sobre mudanças climáticas no Brasil e aponta para a necessidade de zerar o desmatamento, garantir uma matriz energética com 100% de fontes renováveis e ampliar investimentos e pesquisas em áreas como saúde, emprego e infraestrutura.

Dentro os impactos mais severos das mudanças climáticas, o relatório aponta que aumento médio da temperatura global entre 1,4º e 3,7º poderia levar à redução de até 39,3% da área de baixo risco para agricultura, que são locais com pouca variação na produção anual, até o ano de 2040. O impacto na produção de alimentos poderia levar a uma redução de 13,9% nas safras. Por outro lado, com o clima mais quente, o estudo indica aumento de até 182% na produção de cana de açúcar no sul do país.

Regionalmente, isso levaria à queda de até 51% na produção de arroz e 60% do trigo na Região Sudeste; de até 22,4% na produção de feijão no Sul; de até 20% na produção de soja no Centro-Oeste; e de 20% na produção de algodão no Nordeste. A consequência primária é o aumento severo do preço dos alimentos, devido à redução da oferta. O aumento da temperatura global também pode levar à uma redução da produtividade das pastagens de até 38%, em 2030, impactando a produção de carne e leite.

Com a produtividade comprometida, o Produto Interno Bruto (PIB) pode sofrer uma redução entre 0,5% e 2,3% a cada ano, na estimativa para 2050. Essa perda equivale a um montante entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões. Seria algo próximo de se perder em 40 anos o equivalente ao conjunto de riquezas que o país tem hoje.

O Greenpeace alerta ainda que os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, da Organização das Nações Unidas (ONU), são insuficientes para reverter as condições apresentadas no relatório. A entidade cobra que o governo brasileiro se comprometa com o fim do desmatamento e com a meta de uma matriz energética com 100% de fontes renováveis até 2050.

Este relatório mostra que o tema das mudanças climáticas não se resume a um debate entre diplomatas, cientistas e ambientalistas que se reúnem em conferências da ONU. É uma questão presente no dia a dia das pessoas e pode trazer fortes impactos negativos, afetando a conta de luz no final do mês e influenciando no preço dos alimentos. Os prejuízos de um planeta mais quente serão caros. No Brasil, quem vai pagar a maior parte desta fatura será a população mais pobre”, avaliou Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace.

Saúde e energia

A previsão de um aumento de até 4º nas temperaturas até 2099 deve amplificar os níveis de estresse por calor na população, tendo por consequências perturbações como náuseas, dor de cabeça, vertigens, fraqueza e tontura, até casos mais graves, como insolação e ataques cardíacos. Estima-se que a taxa de mortalidade para idosos aumente 7,5 vezes, principalmente por doenças do aparelho circulatório. Além disso, há um indicativo de que vários municípios do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste terão um aumento significativo na disseminação do mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue, chikungunya e zika, entre 2071 e 2099.

O Greenpeace ainda estima que, mesmo que ações de mitigação sejam tomadas – redução do consumo de energia, ampliação das fontes de energia renováveis (hidrelétrica, eólica, solar) – a geração de energia deve cair entre 4% e 15%, devido à redução da vazão dos rios, até 2030. Sem nenhuma ação de mitigação, a estimativa de queda na geração de energia hidrelétrica aumentaria para 8% a 20%, com elevação dos custos totais de produção e aumento da utilização de térmicas, que contribuem para elevação da temperatura e poluição.

Sistemas hoje já sobrecarregados como os de São Paulo, na Bacia do Alto Tietê, podem sofrer redução de até 35% na geração de energia. Mesmo Itaipú, a maior produtora de energia hidrelétrica do mundo, pode sofrer redução de até 40% na geração.

Desastres naturais como ressacas violentas na costa, secas e enchentes prolongadas, aumento na devastação de florestas e desertificação e retomada do fluxo migratório entre as regiões do país também estão indicados no relatório do Greenpeace. A partir de 2038, a expectativa é de migração saída do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul, além da maior parte do Nordeste, com destino às regiões Norte e Sul, e aos estados de São Paulo e Minas Gerais.

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