Café orgânico do Parque da Água Branca pode ser desativado
Secretaria do Meio Ambiente do estado emitiu reintegração de posse para o café, há 21 anos no local, e outros 30 permissionários que oferecem produtos orgânicos na zona oeste paulistana
Publicado 02/11/2016 - 11h58
Café está há há 21 anos no parque: quiosques cedidos pela secretaria e fiscalização do Ministério da Agricultura
São Paulo – Rodeadas pelas árvores e fontes do Parque da Água Branca, na zona oeste da capital paulista, quitutes preparados exclusivamente com produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar convivem com cafés brasileiros de alta qualidade. O público cativo enfrenta filas às terças, sábados e domingos, das 7h às 12h, para ter acesso ao Café Orgânico, organizado pela Associação de Agricultura Orgânica (AAO) há 21 anos no local.
O sucesso da experiência, entretanto, está em risco por conta de uma notificação de reintegração de posse entregue no dia 28 de outubro. Quem exige a saída do café da manhã, e de outros 30 permissionários da também tradicional Feira do Produtor Orgânico do Parque da Água Branca, é a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. De acordo com a notificação, o prazo para o fim das atividades do café expira 15 dias após o recebimento.
“O café existe há 21 anos. Nossos quiosques foram cedidos pela própria secretaria que controla o parque e trabalhamos nos horários das feiras. Atuamos sob fiscalização do Ministério da Agricultura”, afirma Thaís Raíz, coordenadora do café. “Agora, a secretaria está alegando que não pagamos uma contribuição para o parque. Não teríamos problema nenhum em contribuirmos, desde que não seja abusivo”, continua.
Thaís explica que todos os produtos oferecido no local são feitos diretamente pelo produtor que os expõe em uma espécie de “vitrine”. A própria ideia do café surgiu de um produtor. “Um produtor de café orgânico teve essa ideia para divulgar o produto. Na época, todo o café orgânico produzido pelo país era exportado, especialmente para o Japão. O brasileiro mesmo não tinha contato”, afirma, sobre a democratização da produção alimentícia no país por meio da agricultura orgânica familiar.
Talvez esse seja um motivo para o sucesso. Moradora da região, Maribel Azevedo nem recorda há quanto tempo frequenta o espaço. “Os preços são acessíveis e a certeza do produto de qualidade, direto do produtor. A diferença está no sabor, no cheiro dos produtos”, diz.
Thaís estima que mais da metade dos consumidores é composta de fieis frequentadores. “Mas também temos o público flutuante, inclusive turistas”, afirma. Segundo ela, o café é mais que um hábito alimentar, com um apelo cultural e social. “As pessoas gostam bastante.”
O secretário do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que apenas está cumprindo uma decisão da Justiça. “O que saiu na decisão é que há uma permissão sem remuneração para o Estado e que ela não preenche os requisitos legais de ter passado por licitação. Tem de desocupar. Ponto”, afirmou.
Mobilização
De acordo com a coordenadora, a AAO já iniciou um diálogo com a secretaria e ainda tem esperança de contornar a a situação. “Espero que seja simples de fazer isso. Somos uma extensão da associação que funciona normalmente no local”, diz. Ela conta que a partir de 2011 a secretaria começou a falar em abrir “licitação” para a exploração comercial no parque. “Quando este processo iniciou, achávamos que naturalmente estaríamos legalizados. Mas nós não recorremos, o processo correu e agora calhou de chegar este aviso de reintegração”, explica.
Para evitar o fechamento da feira, frequentadores criaram um abaixo-assinado virtual pela plataforma Avaaz. Também corre pela feira um abaixo assinado clássico. “Precisamos de força para dialogar com a secretaria. Os abaixo-assinados são parte desta pressão, e temos uma boa resposta dos frequentadores”, diz Thaís.
“O Café Orgânico é um espaço tradicional de convívio social e familiar da população na cidade. Já é conhecido como um ponto gastronômico e de encontro familiar no contexto urbano, oferecendo produtos com a qualidade orgânica e a oportunidade da comercialização direta, trazendo produtor e consumidor para um encontro e trocas”, diz o texto da petição.