El Niño

Chuva deixa mais de 160 mil desabrigados na América do Sul

Além de 40 municípios do Rio Grande do Sul, Argentina, Uruguai e, principalmente, o Paraguai são fortemente afetados pelas chuvas, que já estavam previstas, atribuídas ao fenômeno El Niño

Roberto Stuckert Filho/PR

Ontem (26), presidenta Dilma sobrevoou região e discutiu plano de emergência com técnicos e Defesa Civil

Brasília – Com a inclusão dos municípios de Rio Pardo e São Gabriel, subiu para 40 o número de cidades atingidas pelas cheias no Rio Grande do Sul. Conforme boletim divulgado no fim da tarde deste sábado (26) pela Defesa Civil do estado, o número de famílias atingidas subiu de 1.795 para 2.204 e o das desalojadas passou das 1.479 registradas na sexta para 1.801.

Além disso, 153 famílias estão desabrigadas. Na lista divulgada na véspera, pela Defesa Civil do estado, havia 66 famílias nessa situação. Entre os nove principais rios do estado monitorados pela Defesa Civil, o Uruguai foi o que atingiu o maior nível, de 11,05 metros, ultrapassando o nível de alerta, de 8 metros.

Outros rios se aproximam o nível de alerta. É o caso do Rio Cai, que atingiu 6,46 metros (nível de alerta 7 metros) e do Gravataí, no município de Alvorada, com 4,04 metros (nível de alerta 4,50 metros). No estado, 12 municípios decretaram situação de emergência.

As chuvas e cheias também atingem outras regiões na América do Sul e já deixaram seis mortos e 150 mil desalojados na Argentina, Paraguai e Uruguai. As fortes chuvas na região estavam previstas devido à ocorrência do fenômeno El Niño, que, segundo pesquisas, é um dos mais fortes já registrados na história.

El Niño é um fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento fora do normal das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Essa mudança de temperatura provoca uma modificação da circulação de ar na atmosfera. No Brasil, o fenômeno se caracteriza por chuvas mais intensas nas regiões Sul e Sudeste e tempo mais seco nas regiões Norte e Nordeste.

A maior parte das vítimas está no Paraguai, onde quase 130 mil pessoas tiveram de ser alojadas em abrigos improvisados pelas autoridades locais.

O Rio Paraguai, um dos maiores da América do Sul, subiu 7,7 metros, atingindo o nível mais alto dos últimos 20 anos. Quatro pessoas morreram. Depois de decretar estado de emergência, o presidente Horacio Cartes anunciou que US$ 3,5 milhões serão destinados para auxiliar os desabrigados.

Na Argentina e no Uruguai, 20 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, sendo 15 mil somente em cinco províncias do noroeste argentino, como Entre Rios, Corrientes e Chaco. Duas pessoas morreram na região.

O presidente argentino Mauricio Macri disse que a ajuda social para áreas alagadas está sendo providenciada e que o governo trabalha em conjunto com as equipes de municípios e das províncias para dar uma resposta à situação, estudando o melhor uso dos recurso. Macri sobrevoou algumas das regiões afetadas e viaja hoje (27) para Entre Rios, onde participa de uma reunião do Comitê de Crise, que busca soluções para as inundações que afetaram a área da costa. No Uruguai, quatro estados estão em emergência. Duas pessoas morreram afogadas e 6,6 mil abandonaram suas casas no Norte do país.

Plano de emergência

No Rio Grande do Sul, a enchente é a quinta e a pior deste ano. A cheia do Rio Quaraí já atingiu o recorde de 15,28 metros. A situação se agravou com a elevação do nível do Rio Uruguai. A forte chuva provocou a interrupção da colheita de arroz em Quaraí e levou à interdição, por 22 horas, da Ponte Internacional da Concórdia, entre o Brasil e o Uruguai, por Quaraí e Artigas.

A presidenta Dilma Rousseff sobrevoou ontem (26) as áreas atingidas pelas enchentes em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, fronteira do Brasil com a Argentina. Antes, se reuniu com autoridades locais, representantes da Defesa Civil e técnicos do governo federal.

Dilma mostrou preocupação com a situação na área afetada pelas enchentes, e considerou produtiva a reunião deste sábado. A presidenta informou que o plano para socorrer a região será executado em três eixos: resgate das pessoas, restauração das cidades e rodovias atingidas, principalmente estradas vicinais, e projetos voltados para a retirada de pessoas das áreas de risco e fixação delas em lugares seguros para moradia.

Citando o Programa Minha Casa, Minha Vida, a presidenta destacou a importância de remover as pessoas para um lugar que seja permanente e sem riscos. Segundo a presidenta, um dos objetivos do programa é justamente colocar as pessoas em lugares seguros. Ela ressaltou que, quando se retiram pessoas de uma área de risco, elas não podem voltar para essas áreas, nem outras pessoas podem ir para esses locais.

“É uma exigência do programa impedir o uso da área para construção de outras moradias”, disse a presidenta. Se isso não for feito sistematicamente, volta-se ao problema anterior e pessoas atingidas por enchentes, ou outros desastres, voltam para áreas vedadas, acrescentou Dilma. “Porque, se não, nós vamos ficar, usando a expressão popular, enxugando gelo.”

Dilma afirmou que o governo tem todo interesse em fazer a recuperação, da melhor forma possível, dos lugares atingidos. “Daí , portanto, que nos comprometemos com os prefeitos para que o ministro Gilberto Occhi, da Integração Regional, volte aqui na semana que vem e faça uma discussão para que todos saibam que o que é possível fazer para uma ação concreta pelas pessoas e pelos municípios da região”. Uma dessas ações é a liberação do Fundo Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para que as pessoas recuperem as casas que perderam com as enchentes.

Com informações de Carolina Gonçalves e Marcelo Brandão, da Agência Brasil