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Falta de clareza sobre crise d’água revolta população. Sabesp cogita reajuste

Moradores da Grande São Paulo acusam governador Geraldo Alckmin de esconder a gravidade da situação em função da disputa eleitoral. Bônus agora leva estatal a avaliar um aumento de preços

TVT / reprodução

Moradores reclamam da Sabesp, que não dá nenhuma solução e diz que está fazendo manutenção

São Paulo O nível do reservatório Cantareira caiu hoje (16) para 3,9% da capacidade, o que representa novo recorde negativo. A represa Atibainha, que compõe o sistema Cantareira, secou por completo. Ontem, a Justiça Federal suspendeu liminar que proibia a captação da segunda cota do volume morto e determinava que a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (Daee) revissem a retirada feita pela Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Sabesp). Os 106 bilhões de litros desta reserva devem garantir o abastecimento até março de 2015 sem que seja decretado o racionamento oficial. Por toda a Grande São Paulo, a falta de água já é realidade.

Em Carapicuíba, a população sofre com o desabastecimento e, em algumas regiões, a água não chega há oito dias. Em situações flagradas pela equipe da TVT, moradores se abastecem com baldes, tomam banho de caneca, e lixeiras improvisadas fazem as vezes de caixas d’água. Em alguns casos, por causa da impossibilidade de utilização das descargas, as necessidades fisiológicas são descartadas em sacos plásticos. Uma escola infantil teve de se abastecer com caminhão-pipa e, para beber, optaram por comprar água de galão. O horário de funcionamento também foi reduzido.

Moradores reclamam da Sabesp, que não dá solução – com a justificativa de que o problema se deve a procedimentos de manutenção –, e ressaltam a contradição: “Se a Sabesp não reconhece o racionamento, não poderia haver falta de água”.

A presidenta da Sabesp, Dilma Pena, em depoimento à CPI sobre o tema na Câmara Municipal de São Paulo, na quarta-feira (15), admitiu que a situação é grave, mas dividiu a culpa entre o governo do estado, a Sabesp e os consumidores. Os microfones da Câmara captaram diálogo entre o vereador Andrea Matarazo (PSDB) e a presidenta, em que o vereador, com o intuito de tranquilizá-la, afirma que a comissão “não tem a menor consequência”. Dilma Pena concordou classificando a atuação da CPI como “teatrinho”.

A executiva responsabilizou ainda a legislação eleitoral pela falta de esclarecimentos à população. Segundo Dilma Pena, peças publicitárias que informavam sobre a situação de desabastecimento foram barradas pela Justiça Eleitoral. “Não podíamos falar a palavra ‘seca’. Só alertar para a economia. Não podíamos falar da gravidade da situação”, alegou a presidenta. Em resposta, o Tribunal Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) disse que barrou as peças porque “enalteciam” a Sabesp.

Segundo o agente técnico do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) ouvido pela TVT, Carlos Thadeu de Oliveira, é absurdo culpar a população: “É vergonhoso porque a população não tinha real consciência da gravidade da situação. Quem tem a obrigação de saber a situação real não é a população. A população tem que colaborar, sim, mas dizer que essa falta d’água é culpa da população é leviano. É inverter a responsabilidade.”

Por diversas vezes o Idec pediu explicações à Sabesp sobre a falta de água em São Paulo, mas não recebeu resposta. Carlos Thadeu acha que houve incompetência do estado ao negligenciar a crise hídrica. “Atestado de incompetência desses gestores”, classificou.

Quem está sofrendo com a crise também acusa o governador Geraldo Alckmin (PSDB) de esconder a gravidade da situação em função da disputa eleitoral.

Ainda ontem, como mais uma medida paliativa, o governador disse que pretende estender o bônus aos consumidores de forma proporcional à redução do consumo. Pela regra atual, aqueles que economizam mais de 20% recebem um bônus de 30%, quando a meta não é alcançada a redução no valor não é concedida. Na nova regra, aqueles que economizam 10% terão o desconto equivalente, por exemplo. A proposta segue em estudo.

Segundo reportagem publicada hoje pela Folha de S. Paulo, a política de concessão de bônus, iniciada em março, provocou rombo de R$ 1,3 bilhão nas contas da Sabesp e o conselho da empresa já admite a hipótese de reajuste da tarifa em 2% acima da inflação, para o próximo mês.

As ações da Sabesp fecharam no menor valor em 12 meses, com perdas de 18% em comparação com o ano anterior.