Agronegócio e hidrelétricas intensificam conflitos no campo, diz analista

CPT destaca também o aumento dos registros de trabalho escravo na região Sudeste

São Paulo – O crescimento dos conflitos no campo na região Amazônica foi intensificado em 2010, mostrou relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgado nesta terça-feira (19). O motivo é o modelo de produção do agronegócio aplicado e a construção de usinas hidrelétricas na região, segundo o padre Dirceu Fumagalli, coordenador nacional da CPT.

O ativista inclui ainda a falta de regularização fundiária e a impunidade em relação a terras griladas na região como agravantes dos conflitos nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Rondônia. Os dados da CPT sobre conflitos no campo em 2010 constatou que 65% dos conflitos agrários no país foi concentrado na região da Amazônia Legal. Nas três primeiras destas unidades da federação concentraram 46,2% dos episódios documentados em 2010.

Fumagalli explica que os conflitos de terras foram, por muito tempo, mais acentuados nas regiões Sul e Sudeste, principalmente pela forte mobilização dos movimentos sociais. Entretanto, com o projeto de avanço das fronteiras agrícolas para abertura de novas áreas para plantio e pastagem, especialmente em direção à Amazônia, houve uma intensificação dos conflitos pela ausência de fiscalização e de regularização fundiária.

Ele destaca também que a construção de usinas hidrelétricas como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, intensificam os conflitos no campo. Isso porque elas necessitam de grandes projetos de infraestrutura, o que pode influenciar no cenário geográfico e social das regiões. Em Rondônia, há duas hidrelétricas em construção no Rio Madeira, enquanto no Rio Xingu, no Pará, é onde está planejado o canteiro de obras da terceira maior hidrelétrica do mundo, em Belo Monte.

Trabalho escravo

Fumagalli destacou também os dados que se referem a registros de trabalho escravo no Brasil. Apesar de os números relativos terem sidos menores do que no ano anterior (204 casos em 2010 e 240 em 2009), nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, todos os estados registraram casos de trabalho em condições de escravidão. O Sudeste apresentou aumento nos registros (21 em 2009 e 28 em 2010).

O vilão da prática, na visão da CPT, é o mesmo. “O modelo de desenvolvimento do agronegócio ainda conserva o que é de mais retrógrado e abominável: o trabalho escravo”, pontuou Fumagalli.