Entidades pedem à Anvisa proibição de termômetros de mercúrio

Brasília – Entidades ligadas às áreas de saúde e meio ambiente entregaram na quarta-feira (19) um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedindo a proibição do uso e […]

Brasília – Entidades ligadas às áreas de saúde e meio ambiente entregaram na quarta-feira (19) um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedindo a proibição do uso e da fabricação de termômetros de mercúrio no Brasil. Elas propõem a criação de um programa de substituição desses termômetros por outros que não contenham materiais tóxicos.

De acordo com a representante da Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte (Promac) Zuleica Nycz, os termômetros disponíveis no mercado são muito frágeis e detêm grande concentração do metal, o que pode contaminar pessoas e ambientes.

“O que queremos é que a Anvisa se sensibilize e nos chame para conversar. Acredito que deve sobrar um pouco de recursos [governamentais] para trabalharmos com a segurança química e proteger a saúde das pessoas e da própria biodiversidade”, disse.

Segundo Zuleica, um dos maiores entraves para a substituição por termômetros alternativos é o preço. Na maior parte dos locais de venda pesquisados por essas entidades, os termômetros não tóxicos custavam mais que o dobro que os de mercúrio.

Alternativas caras
Financiada pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e realizado por ONGs internacionais com participação da brasileira APROMAC (Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte), o estudo ouviu consumidores, comerciantes e profissionais de saúde de oito países em desenvolvimento de Ásia, África, América Latina e Europa para traçar um levantamento preliminar sobre produtos que contém mercúrio. Além de termômetros, foram pesquisados medidores de pressão, materiais odontológicos, cremes dermatológicos e pilhas comuns.

No Brasil, a pesquisa revelou que todos os profissionais de saúde entrevistados sabiam dos riscos à saúde causados pelo mercúrio e que 88% não viam diferença de precisão entre os dois tipos de termômetro. A diferença de preço, no entanto, é o que dificulta a adoção de aparelhos não-tóxicos, conclui o estudo.

Na maior parte dos locais de venda pesquisados, os termômetros alternativos custavam mais que o dobro que os que continham mercúrio. Os produtos mais caros chegam a custar o triplo do preço médio de um aparelho com a substância tóxica.

“É fundamental que o Estado institua medidas que proporcionem a popularização dos aparelhos não-tóxicos”, afirma Zuleica Nycz, da APROMAC, que está coordenando no Brasil a campanha internacional ‘A vida sem mercúrio: para os bebês, para você e para mim’, organizada pela rede de ONGs internacionais IPEN (Rede Internacional de Eliminação de Poluentes Orgânicos Persistentes).

“A intenção é trabalhar para a conscientização de órgãos públicos, organizações da sociedade civil e do setor privado sobre os riscos da exposição ao mercúrio e da necessidade de políticas voltadas para esse tema”, explica.

“Temos um problema muito grave que exige subsídio ou políticas específicas. A máquina do Estado tem uma série de opções para baixar o preço de um produto que é de interesse da saúde pública. O que falta neste momento é vontade política”, continua.

Em junho, o Brasil participará da primeira reunião internacional que discutirá um tratado sobre mercúrio. Ela será realizada pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (Pnuma), na Suécia. De acordo com Zuleica, alguns países como Argentina, Índia e Filipinas já proibiram o uso do metal.

Estudos financiados pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e realizada por organizações não governamentais internacionais revelaram que 83% dos hospitais e consultórios pesquisados no Brasil ainda usam termômetros de mercúrio, mesmo com a disponibilidade de produtos alternativos e do conhecimento dos profissionais de saúde sobre os riscos e a toxidade do material.

O mercúrio é um metal tóxico para os seres humanos, podendo afetar o desenvolvimento cerebral e o sistema nervoso. No Brasil, é usado em termômetros, em lâmpadas fluorescentes, em materiais odontológicos e em processos de mineração de ouro.

A Anvisa, procurada para se manifestar sobre o pedido das entidades, não respondeu.