Para cientista da Nasa, mercado de carbono é desastroso

Em entrevista ao jornal britânico The Gardian, James Hansen defende que, se for para manter mecanismos de compra e venda de 'licenças para poluir', previstas pelo Protocolo de Kyoto, seria melhor começar do zero

Para James Hansen, se a Conferência sobre Mundanças Climáticas das Nações Unidas mantiver mecanismos de crédito de carbono, seria melhor começar as discussões do zero. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o cientista climático e diretor do Instituto de Estudos Espaciais da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa) explica que preferiria um fracasso na reunião de Copenhague, capital da Dinamarca.

Hansen acredita que os perigos do aquecimento global não serão evitados com os tipos de saída definidos pelo Protocolo de Kyoto que poderiam ser aprofundados na COP-15. Ele comparou a compra e venda de cotas de emissão de CO2 à indulgências vendidas pelo clero da Igreja Católica durante a Idade Média.

“Seria melhor não acontecer, se as pessoas aceitarem esse como o melhor caminho, porque é um caminho desastroso”, disse Hansen. “Toda a abordagem está tão fundamentalmente errada que é melhor reavaliar a situação. Se for uma coisa como (o atual Protocolo de) Kyoto, aí serão gastos anos tentando determinar exatamente o que significa.”

Hansen se opõe fortemente aos esquemas de créditos de carbono, em que autorizações para poluir são compradas e vendidas. A União Europeia e outros governos consideram esse sistema como a melhor forma de reduzir emissões e “limpar” a matriz energética do mundo.

O cientista também é contra o plano do governo norte-americano para um sistema de limites e créditos para as emissões nos EUA. Ele prefere um imposto sobre o uso da energia.

“Isso é análogo à questão da escravidão enfrentada por Abraham Lincoln ou a questão do nazismo enfrentada por Winston Churchill”, afirmou. “Nesse tipo de questão, não se pode fazer concessões. Não se pode dizer ‘Vamos reduzir a escravidão, vamos encontrar um acordo e reduzi-la em 50% ou 40%’. Não temos um líder que seja capaz de captar isso e dizer o que é realmente necessário.”

Na quarta-feira, um documento assinado por China, Brasil, Índia e África do Sul rejeitou as principais metas propostas pela Dinamarca, como a redução pela metade das emissões globais de gases do efeito estufa até 2050, em comparação aos níveis de 1990.

Os países em desenvolvimento querem mais empenho dos países ricos na redução das suas emissões antes que haja metas globais, pois temem que isso transfira para si o ônus da ação, travando seu crescimento econômico.

Com informações da Reuters