Nova tecnologia permite que aviões sejam menos poluentes

Método desenvolvido na Unicamp obtém bioquerosene a partir de diversos óleos vegetais. A pureza do produto atende a todos os requisitos para combustíveis para aviação da Agência Nacional do Petróleo

Bioquerosene seria 30% mais baratos e menos poluentes do que a variedade de origem fóssil (Foto: Pablo Barrios/Sxc.hu)

Querosene produzido a partir de vários tipos de óleos vegetais, inclusive gorduras obtidas de microalgas é uma inovação que tem tudo para tornar muito menos poluente o combustível usado em aviões. Além disso, o processo inovador desenvolvido pela Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) deve reduzir custos.

O método consiste em juntar o óleo refinado com etanol e um catalisador, que acelera as reações químicas. “Entre as vantagens do método estão os altos índices de pureza do bioquerosene e a possibilidade de utilização de praticamente qualquer tipo de óleo vegetal como matéria-prima”, avalia Rubens Maciel Filho, professor do Departamento de Processos Químicos da FEQ e coordenador do estudo.

Há mais de quinze anos ele e seu grupo pesquisam a produção de biocombustíveis e de outros produtos de alto valor agregado. “Mais do que obter um combustível renovável, nosso objetivo era contribuir com o setor aéreo, que precisa ser considerado nesse esforço de melhoria das condições ambientais em nosso planeta”.

O processo começa com reações químicas por meio de um catalisador, até que as relações entre o óleo e o etanol sejam otimizadas, fenômeno que ocorre principalmente pela temperatura atingida na própria reação química. Isso permite atingir a melhor conversão dos óleos em bioquerosene purificado, menos poluente que os combustíveis fósseis. Esses derivados do petróleo emitem enxofre, compostos nitrogenados, hidrocarbonetos e materiais particulados.

“Além de ser obtido de fontes renováveis, esse combustível oferece outra vantagem ambiental: ao emitir dióxido de carbono no ar, contribui para o crescimento das plantas no solo, que absorvem o dióxido de carbono e conseguem manter seu balanço energético”, salienta Maciel Filho. Como outras formas de biocombustíveis, as emissões são compensadas pela retenção de carbono ocorrido no crescimento das lavouras.

Em outra etapa da produção, são separados todos os produtos da reação, o bioquerosene, o catalisador, a água e a glicerina. Essa etapa de separação dos compósitos é uma das grandes inovações. Pelos cálculos preliminares, o custo final do bioquerosene será cerca de 30% mais barato que o querosene oriundo de fontes fósseis por causa dos baixos custos de energia utilizada em seu processo de produção. Um dos segredos da tecnologia, segundo ele, está na dosagem precisa das proporções de óleo vegetal, álcool, catalisador e temperatura adequada. Isso permite um grau de pureza de até 99,9%, o que permite a sua utilização mesmo a altitudes alcançadas por aeronaves.

“Não há registros de produtos semelhantes no mercado brasileiro ou internacional. E é exatamente esse alto nível de pureza que permite a utilização do biocombustível em elevadas altitudes”, diz. Por isso, o bioquerosene se enquadra em todos os requisitos para combustível para aviação estabelecidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A tecnologia, aliás, já está em processo de transferência para empresas interessadas.