Consumidores podem reduzir dívidas em até 60% em mutirão em São Paulo

São Paulo – O comerciante Sérgio Borges saiu da tenda do programa “Acertando as Contas” nesta terça-feira (22) com a “vida mais leve” e em poucos dias terá o nome […]

São Paulo – O comerciante Sérgio Borges saiu da tenda do programa “Acertando as Contas” nesta terça-feira (22) com a “vida mais leve” e em poucos dias terá o nome limpo. Ele utilizou os serviços do mutirão do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) para renegociar duas dívidas – uma delas, com um cartão de crédito no valor de R$ 190, foi renegociada para R$ 77. Uma pendência com uma loja de eletrodomésticos, de mais de R$ 300, ficou “melhor ainda”, diz Borges, que vai desembolsar agora R$ 43 e passar o Natal com o crédito restabelecido.

O mutirão para acerto de contas ocorre até domingo (27), no Vale do Anhangabaú, centro da capital paulista, com a participação da AES Eletropaulo, Itaú Unibanco, Santander, Telefônica, Vivo, Banco Carrefour, Credifibra, Recovery e Tricard. A rede de lojas Casas Bahia também aderiu ao programa, mas montou estrutura própria em loja na praça Ramos de Azevedo, também no centro de São Paulo.

De acordo com o diretor de Sustentabilidade da Boa Vista, escritório de crédito que administra o SCPC, Fernando Cosenza, após cinco dias do pagamento da primeira parcela do valor renegociado, quando houver parcelamento, a restrição é excluída da base de dados do serviço. Os abatimentos obtidos no mutirão podem chegar a 60% da dívida. “Temos visto casos reais aqui de pessoas que obtiveram desconto de 60% nos juros e multas e parcelamento em até 10 vezes”, afirma.

A governanta Maria das Dores Batista renegociou a dívida do cartão de crédito de R$ 3.761,40. Ela terá de pagar R$ 250 durante seis meses. O peso da dívida, que surgiu no período em que a mãe de Maria adoeceu, agora vai dar lugar à liberdade de ter crédito novamente.

Os consumidores têm das 9 às 19 horas para consultar se possuem dívidas e, com o relatório de inadimplência, negociar diretamente com as empresas participantes do programa de acerto de contas. “Com a senha nas mãos, o consumidor negocia com a própria empresa, sem intermediários”, afirma Cosenza. O diferencial do serviço prestado no mutirão é que o atendimento ocorre em “tom de acordo” e não de cobrança.

A expectativa dos organizadores é de receber 30 mil visitas e realizar 15 mil negociações. Os números nos dois primeiros dias de atendimento já indicam que a meta será superada, calcula o diretor da Boa Vista. Na segunda-feira (21), 3 mil pessoas consultaram o sistema e 1.500 fizeram acertos. Nesta terça, até as 13 horas, 2 mil consumidores buscaram o mutirão e mil deles conseguiram negociar débitos. O mesmo serviço foi oferecido há dois meses em Paraisópolis, bairro da zona sul de São Paulo, com a participação de 22 mil pessoas e 8 mil negociações.

Segundo Cosenza, o momento – próximo ao final do ano – é de convergência de interesses de consumidores e empresas. “As pessoas querem ter o nome limpo para ter crédito no final do ano, realizar sonhos. Além disso, o crédito faz girar a economia”, aponta.

Educação financeira

Cerca de 40 milhões de brasileiros foram incorporados ao mercado consumidor nos últimos oito anos, lembra o diretor da Boa Vista, administradora do SCPC. Boa parte, mensura, não teria experiência no acesso ao crédito e ainda está aprendendo a distinguir o que são juros, diferenças no pagamento à vista e a prazo, por exemplo.

“Muitas vezes, as pessoas parcelam um produto em 10 vezes de R$ 40, quando à vista pagariam  R$ 250, pelo fato de achar que R$ 40 cabe no bolso. Essa não é a conta certa”, explica. O ideal, segundo ele, é que os consumidores tenham consciência de que se esperassem um pouco e poupassem poderiam comprar à vista. 

O hábito de poupar também precisa ser desenvolvido na população, analisa. Levantamento do SCPC aponta que 60% dos inadimplentes têm pendências pequenas que surgiram devido a eventualidades como doença ou desemprego. “São pendências pequenas, em geral de R$ 50 a R$ 80. Uma poupança, mesmo pequena, resolveria.”

Para Gustavo De Boer, especialista em sustentabilidade da Boa Vista, a educação financeira deveria começar na infância, com os pais. “Hoje, os pais cedem a qualquer desejo dos filhos. O ideal é incentivar as crianças a juntar as mesadas por alguns meses para conseguirem o que desejam”, exemplifica. A regra número zero que se aprende com a mesada, ainda criança, é que existe restrição orçamentária na família, segundo Cosenza. A regra número um é poupar a mesada.

Além da possibilidade de negociação das dívidas, o programa Acertando Suas Contas oferece no mesmo local sete palestras diárias sobre orçamento doméstico.