MST pede desapropriação de usina que teria abrigado incineração de presos da ditadura

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está em campanha aberta pela desapropriação das fazendas pertencentes à usina Cambahyba, localizada no norte do Rio de Janeiro. […]

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está em campanha aberta pela desapropriação das fazendas pertencentes à usina Cambahyba, localizada no norte do Rio de Janeiro. De acordo com o livro “Memórias de uma Guerra Suja”, lançado em maio, o local teria sido utilizado pelos órgãos da repressão para dar um sumiço nos corpos de desaparecidos políticos durante a ditadura (1964-1985).

As ligações entre o regime e os proprietários da Cambahyba apareceram nos depoimentos de Cláudio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que revelou detalhes da repressão política aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcello Neto, autores do livro. “O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano”, diz um trecho da obra, citado pelo MST. “A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados.”

No livro, Cláudio Guerra garante que a colaboração com a ditadura fez com que a Cambahyba escapasse à crise que, na época, mergulhou em dívidas usineiros do norte fluminense. “Tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar.” Em nota, o movimento toma como verdade a denúncia de que a instalação industrial foi usada como máquina de morte pelo regime – e adiciona o fato ao histórico.

Histórico

“O Judiciário vem impedindo a desapropriação do complexo de sete fazendas da Cambahyba, que totalizam 3,5 mil hectares”, contabiliza. “Em 1998, as fazendas foram consideradas improdutivas e passíveis de desapropriação para fins de Reforma Agrária pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e objeto de um decreto presidencial.”

Em 2000, frente à lentidão das autoridades, o MST afirma que 470 famílias ocuparam as terras da usina. No mesmo ano, a Procuradoria da Fazenda Nacional de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio, iniciou um processo de arrecadação das terras, cujas dívidas com a União ultrapassam R$ 100 milhões. Porém, continua o movimento, a tentativa foi frustrada pelo governo federal em 2003 através do Plano de Refinanciamento das Dívidas dos empresários com a União (Refis).

“A proteção do Estado ao latifúndio permanece. Em 2006, as polícias Federal e Militar, por decisão da Justiça Federal da cidade de Campos, despejaram com violência famílias que viviam nas terras da Cambahyba”, diz a nota. “Houve agressões e prisões, casas e plantações foram destruídas. “A história da usina ilustra o poder do latifúndio em nossa sociedade. Por isso, exigimos a imediata desapropriação das terras da Cambahyba para assentamento das famílias.”