Mostra em São Paulo apresenta primeiros filmes protagonizados por negros

São Paulo – Produções cinematográficas de baixo orçamento e que colocaram a cultura negra em destaque a partir dos anos 1970 são o tema da mostra Tela Negra: O Cinema […]

São Paulo – Produções cinematográficas de baixo orçamento e que colocaram a cultura negra em destaque a partir dos anos 1970 são o tema da mostra Tela Negra: O Cinema do Blaxpoitation, que será exibido em duas salas de cinema de São Paulo até 24 de novembro, como parte das comemorações pelo Mês da Consciência Negra no Brasil. A mostra teve início na última quinta-feira (3), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde permanece até 13 de novembro, seguindo depois para o Cinesesc.

O blaxpoitation foi um movimento no cinema que possibilitou o surgimento do protagonista negro nas telas. Esse cinema marginal e ligado à música soul refletiu os sentimentos da juventude da época, a efervescência da cultura negra americana, que na década anterior acompanhou a explosão do movimento em defesa dos direitos civis dos negros, liderado por Martin Luther King e Malcolm X.

“É uma retrospectiva dos filmes da blaxpoitation, que surgiram nos anos 1970, nos Estados Unidos, e que foi um momento em que os grandes estúdios estavam em falência. São filmes de baixo orçamento, alguns com diretores negros – todos com elenco negro – e que fizeram grande sucesso”, afirmou Vik Birkbeck, curadora da mostra.

“São filmes multicoloridos, com uma estética meio estourada. O blaxpoitation carrega não só nas cores, como também nos figurinos com os [cabelos] afro imensos e os saltos plataforma usados tanto por mulheres quanto por homens”, destacou Vik.

Mais tarde, o blaxpoitation influenciou a moda, a cultura hip hop e até mesmo o cinema atual, principalmente os filmes assinados por Quentin Tarantino, como Pulp Fiction e Jackie Brown. “Quando ele fez Jackie Brown, em 1997, ele fez uma homenagem ao movimento”, disse.

O primeiro filme que surgiu desse movimento foi Rififi no Harlem, de Ossie Davis, em 1970, que será exibido na mostra. “Foi um filme de baixo orçamento, que fez US$ 15 milhões na bilheteria”, citou a curadora. Outro que teve grande sucesso foi Super Fly, de Gordon Parks Jr., que desbancou O Poderoso Chefão do topo das bilheterias em 1972.

Segundo ela, os filmes desse movimento rompem com a presença do negro no cinema apenas como coadjuvante ou em papel de empregado. O pano de fundo político e as cenas violentas influenciam, até hoje, o gênero policial no cinema. “Os filmes da blaxpoitation mostram rebeldia: tem o cafetão, o traficante, o bandido, um detetive que dá tiros a toda hora. Tem o transgressor, tem muito xingamento. É o primeiro momento em que o negro tem sensualidade [na tela]. Os filmes apresentam uma explosão de sensualidade, de linguagem e de violência”, disse a curadora.

Um dos objetivos da mostra é promover debates sobre a influência do cinema afro-americano dos anos 1970 na construção da imagem negra internacional e no Brasil. Na noite da próxima quinta-feira (10), um debate será realizado no CCBB de São Paulo e, no dia seguinte, no CCBB do Rio de Janeiro. “Acho que no Brasil é fundamental ter essa discussão porque embora o país tenha a segunda maior população negra do mundo, atrás da Nigéria, proporcionalmente vemos poucas imagens negras. Sou inglesa e, na Inglaterra, onde a população negra é claramente minoritária, vemos mais apresentadores negros na televisão do que aqui, o que é um absurdo”, disse Vik.

Quinze filmes serão apresentados na mostra, entre eles Jackie Brown, de Tarantino, e Shaft – O Filme, de Gordon Parks. Outro título que será apresentado é o documentário musical Wattstax, que causou furor entre a juventude black carioca e paulista na década de 70. “Era o momento do movimento soul e muita gente se identificou com isso. No Rio de Janeiro, teve filas que deram a volta no quarteirão porque muita gente queria ver esse filme”, contou.

A mostra estará também, até o dia 13 de novembro, no CCBB do Rio de Janeiro. O preço dos ingressos varia de R$ 2 (meia-entrada cobrada no CCBB de São Paulo) a R$ 12.

Fonte: Agência Brasil