qualidade de vida

Imprensa tem papel estratégico na divulgação da alimentação orgânica

Para ativistas, é preciso superar a ideia de nicho de mercado e começar a discutir os alimentos orgânicos como questão de saúde e qualidade de vida

Associação de Agricultura Orgânica

Produção orgânica: benefícios desses alimentos ainda precisam ser desmistificados e a imprensa tem esse papel

São Paulo – “A imprensa precisa tratar os alimentos orgânicos por uma perspectiva de saúde e qualidade de vida, não apenas como produtos de um nicho de mercado”. Esse foi o apelo da fundadora do Instituto Cairós, Maluh Barciotte, durante debate O olhar da mídia sobre o tema dos orgânicos, realizado hoje (6), na BioBrasilFair, no Parque do Ibirapuera, região sul da capital paulista. Para ela, ainda há um longo caminho para sensibilizar a população e o poder público sobre a importância da alimentação orgânica e a imprensa tem um papel importante nesse desafio.

“Um dos mantras mais repetidos é que o alimento orgânico é caro. Isso precisa ser quebrado. Além disso, é preciso destacar o potencial nutricional desses alimentos, muito superior à agricultura convencional”, disse Maluh. Um comparativo apresentado por ela mostra que a aquisição de alimentos orgânicos é mais barata do que a compra de similares em supermercados, em cerca de 4%, em média.

A produtora e roteirista Edmara Barbosa, que produziu a novela Velho Chico na TV Globo, avaliou que o momento não é mais de confrontar o agronegócio, mas de ocupar as brechas deixadas pelo modelo. “O agronegócio não produz, devasta. Não alimenta, envenena. Podemos produzir de forma agroecológica nas áreas degradadas pelo agronegócio. Uma forma de produção que em menos de 100 anos fez tanto estrago não vai permanecer”, afirmou.

Para Edmara, é preciso cuidado com a capacidade de inversão e apropriação dos ruralistas. “Com a novela, eu queria que as pessoas que produzem ecologicamente fossem fortalecidas. Mas depois de uma cena onde se diz que ‘se agrotóxico fosse bom, não tinha tóxico no nome’, houve um forte movimento para mudar o nome do produto para fitossanitário. Não dá pra confrontar, temos que construir outro caminho”, afirmou.

Um desses caminhos foi destacado pela jornalista Franciele Lima, criadora do canal youtube Do Campo à Mesa. “Nenhuma revista dava indícios de que aceitaria o que eu queria discutir. Também olhava para a televisão e não via possibilidades”, relatou ela. A solução foi um canal de vídeos. “A ideia é que as pessoas entendam o caminho do alimento, desde o plantio até a casa delas. E todas as problemáticas envolvidas. Usando de ironia e sarcasmo na produção tenho conseguido mostrar as mentiras que a indústria alimentícia conta para elas”, explicou.

Para Franciele, o mais importante é que a população tenha informações e elementos para fazer comparações, além de tentar manter um diálogo que seja acessível para pessoas comuns, “que acham o máximo aquele iogurte cor de rosa”, ressaltou.

A apresentadora da Rádio Brasil Atual Marilú Cabañas destacou que também é importante utilizar meios de acesso praticamente universais, como o rádio, para campanhas de esclarecimento sobre a importância de consumir alimentos orgânicos. Para ela, a maior dificuldade é justamente obter patrocínio para manter programas desse tipo. “Temos uma proposta de um programa para rádio que junte a discussão sobre alimentação saudável, produtos orgânicos e música de qualidade. Mas ainda estamos com dificuldades de encontrar apoio”, afirmou.