Metalúrgicos do ABC

Sindicato pedirá falência da Karmann-Ghia para tentar retomar produção

Entidade considera que esta é melhor alternativa para buscar retomada das atividades da empresa, onde os trabalhadores mantêm ocupação há 47 dias

Adonis Guerra/SMABC

Trabalhadores na assembleia de ontem. Com falta de salários desde dezembro, solidariedade dá suporte a ocupação

São Paulo – O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou que decidiu entrar na Justiça com pedido de falência da Karmann-Ghia, por abandono de patrimônio, por ver na medida a melhor alternativa para tentar retomar as atividades da fábrica, instalada na altura do km 21 da rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo. Desde 13 de maio, os trabalhadores mantêm ocupação da empresa, a fim de evitar a retirada de equipamentos. Ainda no final de 2015, deixaram de receber os salários regularmente.

“Estamos certos de que a abertura do processo de falência é a única forma de garantir os direitos dos trabalhadores do ponto de vista legal. O interesse maior é que a empresa continue viva”, afirmou o presidente do sindicato, Rafael Marques. O movimento será mantido, conforme decisão em assembleia realizada ontem (27). “A ocupação é importante para garantir a permanência do maquinário e, assim, poder defender o que é de direito dos trabalhadores.”

Ele considera que o cenário ficou “insustentável” com um impasse jurídico, que levou à situação, neste momento, não permite sequer saber quem são os donos da empresa. O grupo proprietário anterior reclamou de falta de pagamento no acordo de transferência, e por isso entrou com pedido para que o negócio fosse desfeito. “Fizemos várias tentativas de acordo, mas todos acabavam sendo descumpridos. Os trabalhadores estão sem salários desde o final de 2015, o último valor pago foi o correspondente a 25% do salário de um mês, depositado em dezembro. Não era possível continuar assim”, diz Rafael.

Para se manter, os atuais 364 funcionários da Karmann-Ghia contam com a solidariedade de metalúrgicos de várias empresas da base. Doações de mantimentos e de valores em dinheiro, que serviram, por exemplo, para restabelecer o fornecimento de energia elétrica e de gás em várias residências. A própria energia da fábrica foi religada. Os trabalhadores se dividem em três turnos para manter a ocupação. “Estamos cuidando da fábrica como se fosse a nossa casa”, diz o coordenador do comitê sindical de empresa, Valter Saturnino Pereira, o Valtinho, na Karmann-Ghia desde 1997.

A marca surgiu em meados dos anos 1950, a partir de uma parceria entre o alemão Wilhelm Karmann e o italiano Luigi Segre, dono da carroceria Ghia. No Brasil, a primeira unidade saiu da linha de São Bernardo em 1962. Dessa fábrica, saíram os cupês esportivos e os conversíveis (neste caso, apenas 177 unidades foram produzidas), e os SP1 e SP2, similares ao Puma. A partir dos anos 1980, outros modelos foram feitos no local, como o Ford Escort XR3 conversível e o Land Rover Defender. A fábrica não faz veículos há dez anos, tornando-se empresa de autopeças, ferramentaria e estamparia.

A opção pelo pedido de falência se justifica porque, nesse caso, o crédito trabalhista passa a ter preferência, até o limite de 150 salários mínimos (R$ 132 mil, pelo valor atual), segundo o sindicato. “Desde que existam bens a serem vendidos, os pagamentos serão realizados por rateio entre os credores, estando os trabalhadores à frente na ordem de preferência. Trata-se de um processo demorado, mas muitas vezes esta é a melhor alternativa para os empregados”, diz a entidade.

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