Nova onda de demissões atinge 80 operários da usina de Belo Monte

Jornalista que acompanhava as demissões é ameaçado de morte pela polícia de Altamira

São Paulo – Após uma paralisação nas obras da usina de Belo Monte, no último sábado (10), 80 funcionários foram demitidos na segunda-feira (12).  Na semana passada, um acordo trabalhista entre os operários e o consórcio Norte Energia, responsável pela obra, havia sido firmado. Segundo os representantes dos trabalhadores, a greve aconteceu em função do descumprimento dos termos negociados.

Em novembro, ocorreram duas paralisações que resultaram na demissão de outros 150 operários. Eles reivindicam que o tempo de retorno para suas cidades de origem passe dos atuais seis para três meses, “como em qualquer outra obra de hidrelétrica”, segundo os trabalhadores. Ainda de acordo com os operários, nem todos os demitidos estavam envolvidos na recente paralisação.

Também dentre as críticas ao consórcio consta a denúncia de desvio de função. Os trabalhadores também querem adiantamento salarial antes do recesso de final de ano, demanda que também não foi atendida, segundo alegam.

As obras concentram-se em Vitória do Xingu (PA), na região de Altamira (PA), a 900 quilômetros da capital, e começaram em julho deste ano, com a construção do canteiro da usina hidrelétrica. O empreendimento tem recursos do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) do governo federal e representa um dos principais investimentos em geração de energia elétrica do país.

Em fevereiro, os trabalhadores das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em áreas próximas a Porto Velho (RO), deflagraram greves por melhores condições de trabalho. Os protestos foram marcados por tensão, com incêndio de habitações e de parte das instalações. O episódio levou o governo federal a anunciar um conjunto de medidas para evitar que irregularidades relacionadas a maus tratos e ao aliciamento de trabalhadores por meio de terceirizadas – os “gatos” – voltassem a se repetir em Belo Monte.

Em resposta sobre as demissões, a assessoria de imprensa das empresas que respondem pelo consórcio da obra definiu a onda de desligamentos como “processo operacional natural” para uma obra do porte de Belo Monte. Segundo a assessoria, as demissões nada têm de retaliação às recentes paralisações. O consórcio afirma que os trabalhadores que não se adaptaram ao trabalho foram desligados, mas os postos permanecerão abertos. A promessa das empresas é de admitir novos funcionários.

Ameaças

Acompanhando as demissões dos funcionários, o jornalista Ruy Sposati, que trabalha para o Movimento Xingu Vivo para Sempre, recebeu ameaças de morte quando aproximou-se do escritório do consórcio construtor e foi avisado pelos trabalhadores que a Polícia Militar fazia a escolta do operários demitidos.

Segundo o jornalista, um homem em uma camionete prata o abordou com agressividade, usando termos como “vagabundo” e “baderneiro”.“Eu vou te matar é agora mesmo”, teria dito o suposto segurança da obra ao repórter. Depois de se identificar como jornalista, ainda de acordo com o depoimento prestado, ele teve de se defender da tentativa do homem de arrancar a câmera fotográfica de suas mãos. A confusão só terminou com a interferência dos próprios trabalhadores.

Ainda na tarde de segunda-feira (12), o Ministério Público Federal (MPF), em Altamira, recebeu as denúncias de ameças de morte contra o jornalista.

 

Leia também

Últimas notícias