Metalúrgicos de São José tentam reverter parte das demissões na GM

Sindicato afirma que 150 funcionários com estabilidade foram dispensados, de um total de quase 600 cortes anunciados ontem pela montadora

Ao longo da negociação, trabalhadores realizaram protestos para tentar impedir as demissões (Foto: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos)

São Paulo – O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos vai protocolar uma ação no Ministério Público do Trabalho, na semana que vem, para tentar reverter a demissão de pelo menos 150 trabalhadores que teriam direito a estabilidade, por estar prestes a se aposentar, terem sequelas de lesões ocorridas no trabalho ou doentes. A decisão foi anunciada após a General Motos (GM) anunciar, ontem (26), a demissão de 598 funcionários na fábrica do interior paulista.

A empresa manteve 150 trabalhadores com estabilidade, mas, segundo o sindicato, eles somam 300. “A empresa demitiu de maneira arbitrária, não abrindo espaço para outras alternativas, como a eliminação das horas extras para reduzir os gastos”, afirmou o secretário-geral do sindicato, Luiz Carlos Prates, o Mancha. “Vamos brigar por mais investimentos na planta, para garantirmos empregos.”

Os metalúrgicos demitidos estavam com contratos suspensos (lay-off) desde agosto do ano passado. Eles trabalhavam no setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA), onde é feito o modelo Classic, cuja produção será transferida para a Argentina. O processo de negociação durou um ano. A última tentativa de evitar os cortes e reintegrar todos os funcionários foi feita na sexta-feira (22) passada.

A unidade do Vale do Paraíba tinha aproximadamente 7.500 funcionários há um ano. Mais de 900 foram colocados em lay-off em agosto. Perto de 180 entraram em um programa de demissões voluntárias, e dos demais 748 com os contratos suspensos 598 foram dispensados. Assim, mais de 10% da mão de obra da GM deixou a fábrica nesse processo.

A prefeitura de São José dos Campos, que foi procurada pelo sindicato para tentar reverter as demissões durante a negociação, afirmou, em nota, que “colocará à disposição dos trabalhadores demitidos pela General Motors os programas e cursos de requalificação de mão de obra já oferecidos pela administração municipal” e que os trabalhadores poderão se cadastrar no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) “para buscar recolocação”. O prefeito Carlinhos de Almeida (PT) esteve presente em duas reuniões com o sindicato, sendo umas de negociação com a GM.

Ajuda externa

A Secretaria estadual de Emprego e Relações do Trabalho (Sert) lamentou as demissões, mas informou que não poderia intervir no processo, por se tratar de um assunto entre trabalhadores e empregadores. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o Banco do Povo Paulista vai realizar mutirões de atendimento para encampar iniciativas de ex-funcionários da GM que tenham condições e se interessem em abrir um negócio próprio. Não haverá mudança na relação do governo estadual com a empresa, em relação a isenções fiscais, financiamentos ou outras formas de incentivo.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que fez todos os esforços possíveis na mediação. Já o Ministério da Fazenda informou que não recebeu demanda sobre qualquer questão relativa a incentivos fiscais concedidos a GM e que qualquer atitude sobre o tema caberia ao MTE.

Em janeiro, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antônio Ferreira de Barros, o Macapá, cobrou “posicionamento claro do governo federal” sobre o caso, após uma reunião entre a entidade e a GM, mediada por um representante da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo. Em nota, o sindicato afirmou que “o governo federal vem tomando uma série de medidas em favor da indústria automobilística, com incentivos fiscais e financiamentos. Por outro lado, não foi tomada nenhuma medida sequer para garantir os empregos dos trabalhadores”. De acordo com o texto, “não existe motivo para demissões”, pois “os trabalhadores que estão na fábrica têm feito excesso de hora extra” e “a GM continua importando veículos da Coreia, da Argentina e do México. Se esses carros fossem produzidos aqui, o cenário seria bem diferente”.

O embate entre trabalhadores e empregadores na GM de São José começou no início de 2012, com o anúncio, pela empresa, de que fecharia o setor de Montagem de Veículos Automotores (MVA), transferindo a montagem do veículo Classic para a Argentina. Desde então, foram realizadas várias reuniões, sem sucesso, inclusive com a participação de representantes da prefeitura, da Sert e do MTE.