Químicos tentam superar contaminações e efeitos do assédio moral no trabalho

Antiga luta, exposição a danos físicos soma-se a transtornos decorrentes de pressões

São Paulo – A saúde do trabalhador do ramo químico ainda se arrisca em ambientes de serviço perigosos e hostis, segundo Remígio Todeschini, diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional (DPSO) do Ministério da Previdência Social. O ex-presidente do Sindicato dos Químicos do ABC chama atenção para o aumento de casos de adoecimento psicológico, além das recorrentes contaminações durante o período de trabalho.

No passado, as pessoas desenvolviam doenças infecciosas e parasitárias que levavam ao óbito certo sem o tratamento adequado, Todeschini chamou a atenção para a expectativa de vida atual. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os homens vivem em média 78 anos e, as mulheres, 81,3. Entre as causas de morte atuais, estão as externas, como acidentes de trabalho, lesões, câncer e doenças do sistema circulatório.

“É preciso superar o trabalho insalubre, de condições excruciantes. O trabalho precisa ser feito com pluralidade e com estabilidade e igualdade, em espaços saudáveis”, pontuou Todeschini. Egresso do movimento sindical, ele deixou clara sua rejeição por sistemas instáveis de contratação, como a terceirização. As declarações ocorreram na conferência internacional “A Indústria Química em 2020, um novo rumo é possível”, realizada nesta quarta-feira (28) pelo Sindicato dos Químicos do ABC.

Uma das grandes lutas da categoria é erradicar casos de contaminação e de assédio moral. Nos anos 1980, três casos emblemáticos delinearam as reivindicações, com mobilização, greve e conquista de algumas melhorias nas fabricas. No Ferro Enamel, indústrias Matarazzo e Eletrocloro houve graves casos de contaminação por chumbo, benzeno e mercúrio.

A exposição de seres humanos aos contaminantes presentes no local da fábrica é debatida há anos, e os casos ainda circulam na Justiça. Em abril deste ano, o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região negou recurso da Shell e Basf, em Paulínia (SP), a 120 quilômetros da capital, onde ocorreu contaminação de um bairro inteiro. O TRT havia julgado em primeiro instância o custeio de tratamento de saúde de ex-funcionários que foram expostos a substâncias.

Após instalação de uma fábrica no interior de São Paulo em 1970, foram analisados vários casos de adoecimento de funcionários. Somente em 1992, foi apurada a existência de contaminação do solo e das águas subterrâneas por produtos cancerígenos.

Olhando para o futuro, Remígio acredita que é possível reduzir as incidências até sua erradicação por meio da inovação tecnológica – e, consequentemente, a discussão sustentável da nanoquímica – e da qualificação da mão de obra de operários e dirigentes sindicais, para que se evite também assédio moral e transtornos comportamentais. “Temos que evoluir com harmonia nestes dois pontos”, reforçou. A capacitação dos funcionários deveria, segundo ele, ser oferecido com maior alcance pelo “Sistema S” (Senai, Sesi, Senac, Sebrae).

Insegurança constante

Nilton Freitas, assessor do Sindicato dos Químicos do ABC, reiterou a condição frequente do trabalhador: “Trabalho ruim dá mais sensação de perda e sofrimento do que de produtividade e realização.” O autoritarismo dos patrões leva a um fator discriminatório, segundo ele. “É aquela antiga ideia que para ser chefe é preciso ser autoritário. Se quisermos ser uma indústria química de verdade, é preciso mudar estes pensamentos”, declarou.

Fatores externos como a globalização, crise econômica e guerra fiscal também foram apontados como motivo de agitação e insegurança do trabalhador industrial, que teme pela desindustrialização agravada pela falta de competitividade e concentração de empregos no exterior. “Queremos apoiar medidas que protejam o emprego”, disse.